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Salomão Schvartzman e Zevi Ghivelder

TENDÊNCIAS/DEBATES

A favor dos civis sírios e contra o terrorismo

O Irã supre, através da Síria, os grupos terroristas Hamas e Hizbollah; por que os civis líbios receberam proteção e os sírios estão sendo ignorados?

Em artigo publicado nesta Folha, assinado por Evguêni Primakov, ex-primeiro-ministro da Rússia entre 1998 e 1999 ("A situação na Síria está a um passo do caos", no último dia 15), ele afirma ser contra o direito internacional de retirar do poder Bashar Assad, na Síria, "presidente legitimamente eleito".

É preciso ter uma boa dose de cinismo para considerar que qualquer eleição realizada na Síria, desde os tempos do pai de Assad, tenha algum resquício de legitimidade.

Ele justifica o veto russo no Conselho de Segurança da ONU, a favor da Síria, argumentando que "o país se tornou o centro das atenções porque é próximo do Irã".

Ocorre que essa proximidade não aconteceu de forma repentina. Os contornos geopolíticos do Oriente Médio estão traçados desde o fim da Segunda Guerra. A única alteração foi a inserção de Israel.

Primakov afirma que a queda de Assad "é parte do plano para isolar o Irã". É óbvio, porém, que foi o próprio Irã que se isolou do mundo, em função do seu empenho de fabricar um artefato nuclear, escamoteando as inspeções internacionais.

O articulista recorre a uma argumentação simplista e simplória ao atribuir a revolta popular na Síria ao mais do que secular atrito entre sunitas e xiitas, como se a Primavera Árabe não tivesse acontecido.

Finalmente, ele diz que a aproximação entre a Síria e o Irã "aconteceu sob influência do conflito árabe-israelense". Ou seja: admite com todas as letras que o Irã supre através da Síria, com armas e ideologia, as organizações terroristas Hizbollah, no Líbano, e Hamas, na faixa de Gaza. Onde esta atitude se inclui no direito internacional?

Mas talvez Primakov até tenha alguma razão.

Em recente artigo para o "New York Times", o ex-diretor (1998-2002) do Mossad (serviço secreto de Israel), Efraim Halevy, escreveu que o atual "calcanhar de Aquiles" (sic) do Irã é a Síria.

Isso porque uma queda do regime de Damasco aniquilaria a ambição do Irã de ser a principal potência do Oriente Médio, estendendo sua presença e influência por toda a região.

Enquanto isso, mordendo a Síria pelas beiradas através de diversas sanções, o presidente Obama continua iludido acreditando que a Rússia vá abandonar Assad, comprador em enormes quantidades de seus equipamentos militares.

E também se ilude que a China, violadora sistemática dos direitos humanos, vá se importar com direitos humanos alheios.

Os votos de Rússia e a China a favor da Síria no Conselho de Segurança demonstram que, por motivos incompreensíveis, ambos não se dão conta de que, caso Assad permaneça no poder e venha a ser exaltado como um grande líder vitorioso, ele certamente vai mobilizar os grandes contingentes de muçulmanos que vivem no sul da Rússia e no leste da China. Seria pouco confortável para Moscou e Pequim.

No ano passado, os Estados Unidos endossaram os bombardeios na Líbia para proteger a população civil. Por que os líbios obtiveram aquela intervenção e os sírios estão sendo ignorados?

SALOMÃO SCHVARTZMAN, 78, jornalista e sociólogo, é colunista da BandNews FM e da BandNews TV. Foi diretor da sucursal paulista da revista "Manchete"
ZEVI GHIVELDER, 77, jornalista, foi diretor do Grupo Manchete. É autor do romance "As Seis Pontas da Estrela" (editora Arx)

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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