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Europa compra tempo

O BCE (Banco Central Europeu) emprestou mais € 529,5 bilhões aos bancos da zona do euro, à taxa de juros de 1% ao ano. Somados aos empréstimos de dezembro, trata-se de mais de € 1 trilhão, o equivalente a quase metade da produção anual da economia brasileira.

É parte do "tsunami monetário" de que fala a presidente Dilma Rousseff. Mas tamanha injeção de dinheiro teve o dom de apenas estabilizar os sinais vitais de um paciente ainda em estado crítico.

O sistema financeiro europeu, em especial seus bancos, esteve à beira do colapso no final de 2011. Os empréstimos interbancários quase pararam de fluir, dado o temor de quebra de outros bancos, o que congestionou os dutos do mercado financeiro. A crise foi sentida no Brasil, onde o dólar chegou à casa de R$ 1,90, com a redução drástica de empréstimos externos e investimentos de risco.

A atitude do BCE, embora meritória, não deu cabo da crise. Evitou, porém, desenlace dramático; os capitais voltaram a fluir, e baixaram as taxas de juros que o mercado cobra dos países mais preocupantes. O dinheiro, ademais, compra tempo para buscar outras soluções ao problema do endividamento de governos e da letargia produtiva do continente.

É forçoso, porém, notar a ironia das medidas extraordinárias do BCE. Trata-se de mais uma providência que, um dia peremptoriamente descartada por autoridades europeias, acabou adotada sob pressão das circunstâncias.

Foi assim no início da crise, em 2009, quando se tornou patente a gravidade do caso grego. Autoridades da eurozona rejeitavam a ideia de socorrer a Grécia. A seguir, negavam que o BCE compraria títulos de governos em dificuldades, o que acabaria por ocorrer em meados de 2010, no tumulto causado pelo mercado ao recusar-se a financiar governos endividados.

Pouco mais adiante, negava-se a hipótese de perdão de parte da dívida grega. Outra vez as autoridades tiveram de recuar; conclui-se agora o "calote organizado" grego.

Esse conjunto de medidas foi, desde o início da crise, proposto pelos observadores mais ponderados do problema europeu. Que as autoridades europeias se tenham rendido apenas na undécima hora à necessidade de medidas emergenciais não suscita otimismo quanto aos planos ainda tímidos para a solução da crise.

Agora, ao menos, ganha-se tempo para pensar um programa de recuperação que não se restrinja à contraproducente recessão causada por seguidos arrochos nos orçamentos de países em dificuldades.

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