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Demonstração de força

Como esperado, o atual primeiro-ministro, Vladimir Putin, venceu a eleição presidencial na Rússia -e com 64% dos votos. Tampouco houve surpresa nas denúncias de fraudes no processo eleitoral e na contagem de votos.

Como já acontecera nas eleições parlamentares de dezembro, a oposição alega que eleitores favoráveis a Putin votaram mais de uma vez, conduzidos em grupo para diversos postos de votação. Fiscais teriam incluído cédulas falsas nas urnas.

Pesquisas independentes indicavam que Putin detinha a maioria das intenções de voto. As irregularidades podem ter servido para inflacionar sua vantagem sobre os demais candidatos -o segundo colocado não chegou a alcançar 20% do eleitorado, o que afastou a realização de um segundo turno.

Dezenas de milhares de russos protestaram nas ruas após o pleito. Centenas foram presas pela polícia, que reprimiu as manifestações.

No governo desde 1999, como presidente ou premiê, Putin concentrou poderes, reprimiu protestos, coibiu o trabalho da imprensa, prendeu opositores e manipulou processos eleitorais.

Durante a maior parte da última década, contou com expressivo apoio popular, regado com recursos advindos dos preços em alta do petróleo e do gás, principais produtos de exportação da Rússia. A bonança na economia, o crescimento da classe média e o consumo de luxo esfumaram a memória da crise econômica dos anos 1990.

As primeiras fissuras em sua popularidade e na passividade da sociedade russa diante da concentração de poder vieram com a crise de 2008. Parte da classe média agora exige respeito às regras democráticas. Pesquisas incidam que 70% dos manifestantes contra Putin cursaram o ensino superior.

Eles não são a maioria da população, mas compõem uma oposição estridente. A deterioração do cenário econômico pode engrossar as fileiras de opositores. A complexidade da sociedade e da política russas, no entanto, tornam impróprias comparações com a chamada Primavera Árabe.

Apesar de sua clara vitória, Putin terá de adaptar-se aos novos tempos e fazer escolhas que não são triviais. Poderá fazer concessões graduais aos adversários, mas não se descarta que procure conservar o poder à base de repressão.

Num país em que quase 70% da população apoia a existência de um "líder forte", segundo pesquisa da organização norte-americana Pew, Putin dificilmente abrirá mão de um discurso populista e maniqueísta, capaz de polarizar o país e tornar ainda mais conturbada e imprevisível a abertura democrática na Rússia.

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