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Tensão superficial

Preços altos e cada vez mais voláteis do petróleo causam ansiedade, mas choque mais profundo depende da evolução da crise iraniana

O preço do petróleo equiparou-se nas semanas recentes ao do pico registrado em 2011, quando o barril do tipo brent alcançou quase US$ 127. Ao menos desde a crise de 2008, as variações de preços são quase tão rápidas e extremas quanto as dos momentos de tumulto no centro da produção mundial, o Oriente Médio, em 1973 (guerra entre Israel e países árabes) e em 1979-1980 (revolução iraniana e guerra Irã-Iraque).

As economias desenvolvidas são hoje menos dependentes de petróleo. Considerado o aumento da renda mundial, o custo do barril tem no presente peso econômico menor. Ainda assim, variações de preços podem determinar recessões.

A alta recente do petróleo se deve à ameaça de ataque ao Irã. Mais precisamente, à exclusão de parte do produto iraniano do mercado, com o embargo euro-americano.

O Irã é o segundo maior produtor da Opep. Fica atrás só da Arábia Saudita, que de resto dispõe da maior capacidade ociosa, sendo assim o grande regulador da oferta mundial no curto prazo.

O encarecimento adicional do petróleo tende a solapar a modesta recuperação da economia americana. No ano passado, a alta dos preços causada pelas revoltas em países árabes foi um dos fatores a limitar o crescimento dos EUA. Temia-se uma recaída na recessão.

Uma nova crise de energia aprofundaria a retração europeia e ameaçaria o controle dos preços em países em desenvolvimento, como Brasil e China, que recentemente tiveram de reduzir seu crescimento devido à alta da inflação.

Mesmo que a crise iraniana arrefeça, especialistas em energia estimam que o preço do barril ainda flutuará em torno de médias historicamente altas, tais como as verificadas em 2007 e 2008, anos de grande expansão da economia mundial. Tal patamar seria de US$ 100 (o barril tipo Brent). Nos anos logo após 1970, a média foi de US$ 40, preço ajustado pela inflação.

Desde o início do século, declinou o consumo de petróleo nos países desenvolvidos da América do Norte, da Europa e da Ásia. Mas, no restante do mundo, a demanda aumentou mais de 40% -nos próximos 20 anos, estima-se que toda a procura adicional virá do mundo em desenvolvimento.

Particularmente entre os anos 2003 e 2008, a capacidade de aumento de produção de curto prazo declinou, e o crescimento econômico nos países emergentes foi muito rápido. O aumento da oferta, porém, tem sido problemático. A Opep ainda produz 40% do petróleo mundial e dispõe de quase toda a capacidade de oferta adicional, no curto prazo, que regula esse mercado.

Os países onde o custo de exploração e produção são menores (Oriente Médio e África) são assolados por frequentes problemas políticos e guerras. A produção no restante do mundo ou é declinante, ou é cara, e está em áreas de difícil pesquisa, extração e produção.

Dada a escassa margem de ociosidade, tornam-se mais comuns variações extremas e rápidas de preços provocadas por tumultos de ordem variada em grandes exportadores e a alterações de expectativas de crescimento econômico.

Tais reviravoltas são intensificadas pela interferência de investimentos financeiros no mercado de combustíveis. Desde o início do século, cresceram muito o número e o valor dos negócios com petróleo por investidores não comprometidos com compra e venda físicas do produto. Ou seja, de bancos e fundos de investimentos interessados em auferir ganhos com a variação do preço de commodities.

Ainda é controversa a influência da chamada especulação financeira na formação dos preços. Parte relevante desses negócios não ocorre em Bolsas, mercados regulados. Desde 2004 é notável o aumento da variação dos preços, ou seja, da volatilidade.

Uma alta de preços duradoura tende a incentivar exploração e produção em campos de custo mais alto e estimular a conservação de energia, tendência clara desde os choques do petróleo nos anos 1970-1980. Há perspectivas de novas fronteiras de produção, como ao sul do Atlântico (Brasil e África).

Ainda assim, as estimativas das agências internacionais de energia são de alta de preços por duas décadas, projeções que levam em conta fatores como crescimento econômico e custo de exploração.

Ademais, as negociações mundiais a respeito do clima podem alterar a intensidade e a forma do uso da energia. Economias maiores e de crescimento rápido, como a chinesa, podem mudar seu padrão de consumo. O alto preço do petróleo torna mais atraente o desenvolvimento de alternativas tecnológicas poupadoras de energia.

A próxima meia década deve ser de tensão no mercado de petróleo, ainda mais se afastado o risco de estagnação nas economias desenvolvidas e de esgotamento do impulso das economias asiáticas.

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