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Rogério Gentile

Má digestão

SÃO PAULO - Com dificuldade para digerir críticas, o Judiciário tem se utilizado de ameaças, veladas ou não, para tentar fazer valer seu ponto de vista e inibir a imprensa.

Primeiro, o presidente do Tribunal de Justiça de SP, Ivan Sartori, anunciou a intenção de mobilizar 354

juízes para processar a Folha por não aceitar o uso da palavra "investigação" em texto sobre a ação do CNJ na corte. Para ele, o correto seria dizer que o órgão fará uma "inspeção".

Agora, surge a Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho que, contrariada com outra reportagem, divulga nota, assinada por sua presidente (Sônia Lacerda), em sinuoso, mas indisfarçável tom intimidatório.

Diz o texto: "Lamentavelmente, os magistrados não estão contando com um jornalismo isento e responsável para a análise de sua importante missão republicana e profissional. Os jornalistas, ao menos, poderão sempre contar com os juízes para garantir seus direitos, inclusive o da jornada de cinco horas diárias".

A "nota de repúdio" é uma reação à reportagem do "TV Folha", segundo a qual a maioria dos juízes do Fórum Trabalhista -aquele do Lalau-não aparece às sextas-feiras.

A associação diz que o programa foi injusto por não considerar que os juízes têm grande carga de trabalho e que muitos usam as sextas para, em suas casas, redigir sentenças. É razoável acreditar que muitos assim o façam. Mas o contrário também o é. E o ponto é este. Ninguém pode garantir que todos os juízes agem conforme a sua "missão profissional".

O fato é que, hoje, o fórum não dá conta dos processos recebidos. No último ano, o total de casos pendentes (182.929) cresceu 15,4%. E, coincidência ou não, muitas das varas nas quais a Folha achou juízes trabalhando às sextas estão entre as que têm um acúmulo menor de ações.

De qualquer modo, os juízes merecem ter seus argumentos divulgados e debatidos. Só não dá para tentar impor sua versão com ameaças nada republicanas de retaliação.

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