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Brics em construção

Comunicado vigoroso da cúpula de países emergentes até surpreende, entretanto formação de verdadeiro bloco ainda vai tomar muito tempo

O recém-encerrado encontro de cúpula dos Brics foi bem-sucedido, em que pesem os equívocos sobre o alcance prático imediato de reuniões diplomáticas.

Essa reunião heterogênea e fortuita de países -Brasil, Rússia, Índia, China e, mais recentemente, África do Sul- não pode muito mais do que enviar à comunidade mundial mensagens incisivas sobre o único interesse geral que os congrega: a partilha do poder do mundo euro-americano sobre instituições multilaterais e finanças internacionais.

Quanto a isso, o comunicado dos Brics foi vigoroso. Pode-se mesmo dizer que embute ameaça de providências práticas, de retaliação.

O tópico mais importante do texto final da cúpula de Nova Déli deixa claro que os Brics não vão financiar a expansão do caixa do Fundo Monetário Internacional (FMI) e, assim, um possível socorro a países europeus, a menos que seja implementada a decisão de 2010 sobre redividir poderes na instituição.

Pode ser que os Brics não tenham chegado a um acordo sobre uma candidatura alternativa à americana para a presidência do Banco Mundial. Que tenha sido postergada a criação de um discutível banco de desenvolvimento internacional comandado por países emergentes. Ou, ainda, que China e Rússia na prática tenham, mais uma vez, desdenhado as aspirações também controversas do Brasil a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Porém tais querelas dificilmente podem ser tomadas muito seriamente, dadas as incoerências e discrepâncias fundamentais do bloco.

"Brics" foi, a princípio, um conceito de marketing financeiro de um grande banco de Wall Street e uma metáfora feliz (a sigla soa como o vocábulo inglês para "tijolo"). Serviu para concretizar a percepção difusa da importância ascendente dos grandes países antes ditos periféricos. O senso de oportunidade transformou o conceito em marca da propaganda política de um grupo de países diversos, porém convergentes no interesse de adequar seu poder à nova relevância econômica.

É provável que a integração econômica e a convivência política instituam laços mais profundos entre os países do grupo: comércio mais volumoso e menos desigual, cooperações que compensem fragilidades em tecnologia ou defesa, parcerias mais práticas para conquistar postos de poder multilateral.

Tais processos são lentos até onde há proximidade regional, baixa tensão político-militar e domínio econômico claro de um país, como no caso do pequeno Mercosul. Mais complexa ainda é uma associação de países muito mais poderosos, como os Brics. É um avanço que já se tenham reunido na frente comum da política financeira internacional.

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