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Seis anos de Mantega

Guido Mantega tem tido uma carreira excepcional no Ministério da Fazenda. São seis anos no posto. Na democracia, só não é mais longevo que Pedro Malan, que ficou os oito anos de Fernando Henrique Cardoso no cargo.

Tão raro quanto sua longevidade é o ministro ter acumulado prestígio enquanto o Brasil era abalado pela mais grave crise financeira mundial em oito décadas.

Mantega assumiu sob descrédito quase geral de economistas do setor privado e líderes empresariais, com exceção de aliados na indústria. Substituiu Antonio Palocci, que, mesmo abatido por escândalos, tinha firme apoio da elite econômica e do presidente.

Desde quando ocupara os postos de presidente do BNDES e ministro do Planejamento, Mantega deixara clara sua discordância da política econômica "paloccista", que estabilizara o país. Combatia em público a timidez estatal, dos bancos federais e do Banco Central, assim como a inércia do governo diante da valorização do real.

À frente da Fazenda, a princípio Mantega não conseguiu solapar o domínio da política econômica convencional e teve a autoridade diminuída quando Lula instituiu um conselho informal de economistas de fora do governo.

A crise das políticas e ideias econômicas dominantes nos últimos 30 anos, evidenciada com o colapso de 2008, revigorou o ministro.

As providências para atenuar os efeitos da recessão mundial tiveram sucesso. Abriram-se as portas para o aumento do gasto público, as intervenções de bancos estatais, o programa de reorganização das grandes empresas nacionais com apoio do Estado, as intervenções no mercado de câmbio e crédito.

A economia brasileira voltou a crescer de modo inédito em quatro décadas, e Mantega alcançou até mesmo prestígio mundial.

O ministro da Fazenda contou também com a sorte. As reformas iniciadas nos anos 1990 tornaram mais estável a economia brasileira. A emergência da China compensou deficiências nacionais e permitiu um crescimento maior. A acumulação de reservas nos primeiros anos de Lula deu cabo da dívida externa.

Mantega conteve, no governo de Lula, o liberalismo econômico dos anos Palocci. Deve parte de seu sucesso, aliás, à estabilidade derivada das reformas ditas liberais. Acabou por formatar uma nova síntese de política econômica, adotada de modo explícito pela nova presidente petista, Dilma Rousseff.

Sua gestão -sob o comando da presidente, cabe lembrar- concentrou-se mais em alterações de ênfase na administração de curto prazo do que por modificações de fôlego. Não propôs nem implementou reformas estruturais e, por isso, seu legado ainda é vulnerável às tormentas da economia mundial.

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