Índice geral Opinião
Opinião
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Horacio Lafer Piva, Eduardo Carneiro e Alfredo de Goeye

Novo modelo em um velho setor

Por um terceiro setor com metas de performance e cobranças regulares feitas pelo Conselho de Administração. Por que não um CEO de mercado ou fusões?

O Brasil tem passado por um período de transformações impressionantes. Não obstante seu tempo político ainda estar descolado do tempo econômico, o fato é que a sua condição de protagonismo cresceu muito, fruto de uma sociedade mais ativa, um mercado mais competitivo e vigoroso e empresas mais comprometidas com resultados.

Parte deste fenômeno acontece pelo que hoje chamamos de governança, que inclui modelos de gestão mais transparentes e estruturados. Outra parte vem da compreensão de que, muitas vezes, juntos vamos mais longe, tirando assim empresas de seu conforto patrimonialista para uma nova busca de composições e ganhos de sinergia e escala.

Não foram poucas as bem sucedidas fusões que vimos recentemente, para o bem de seus acionistas e da economia em geral.

Da mesma forma, está claro que algumas entidades do terceiro setor, e aqui incluímos fundações, institutos e OSs (organizações sociais), enveredaram pelo mesmo caminho da boa gestão, e colhem resultados expressivos.

A AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) completou recentemente 61 anos, atendendo a seis mil pacientes por dia em suas 18 unidades no Brasil.

É um centro de excelência e pesquisa, uma referência em sua área, e desde o ano passado opera com um novo estatuto. A filantropia descompromissada foi substituída por compromissos claros de performance e otimização dos recursos entregues por nossos doadores, com transparência absoluta, metas definidas e cobranças regulares feitas pelo Conselho de Administração.

É uma entidade sem donos, sem vaidades, com uma diretoria profissional. Há agora, embora isto tenha causado então espanto, um CEO (presidente) de mercado, que recebe do conselho como o guardião dos valores da entidade, das linhas mestras, mas opera a estrutura empresarialmente.

Nesta semana, a AACD fez talvez a primeira operação profissional de fusão nesse mercado. Acreditamos que esse seja um exemplo a ser seguido por milhares de outras, muitas à míngua, que precisam descobrir que um mais um pode ser igual a três.

O Lar Escola São Francisco, ainda mais tradicional que a AACD, após meses de conversas e operação conjunta, enveredou por processos de fusão bastante conhecidos pelo mercado de negócios, que culminaram na soma da sua competência com a nossa.

Esse é um gesto de desprendimento que não só o aliviará dificuldades recorrentes, mas tornará a AACD ainda mais forte e preparada para novos horizontes.

Sua diretoria vem integrar o nosso conselho. Pessoas e espaços serão otimizados. A sua história será perenizada, e os pacientes de ambas entidades, nossa razão de ser, terão um arco mais largo de tratamentos e experiências a seu dispor.

Não é pouco. Estamos certos de que é um caminho novo, maduro e eficaz, que deve ser copiado por entidades congêneres, experiência que colocamos à disposição da sociedade.

Não há porque não acreditar que tudo pode ser melhorado. Organizações que atingiram o tamanho e a história da nossa não podem mais depender apenas de uma ou duas pessoas, de doações não recorrentes e de uma visão antiga, ancorada em tão somente culpas e apelos sentimentais. É a hora da mudança, do avanço também neste vigoroso terceiro setor.

-

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.