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Yves de Carvalho Souzedo

Meu relato sobre como fui expulso da USP

Acusado de depredação, fui depor. Fiquei em silêncio, pois era um processo político. Agora, não posso trabalhar. A USP não libera o meu diploma

Escrevo para esclarecer alguns fatos referentes às eliminações de alunos que vem ocorrendo na USP.

É importante que fique claro que os seis estudantes que foram expulsos da universidade não têm envolvimento com a ocupação da reitoria em 2011 nem com o episódio de estudantes presos com entorpecentes.

Eles estavam envolvidos em um movimento (decidido em assembleia) de retomada de um espaço no bloco G do Crusp (Conjunto Residencial da USP), do qual sempre fui morador oficial. Estudantes tinham sido desalojados desse bloco para que a universidade ampliasse as salas da Coseas (Coordenadoria de Assistência Social da USP).

De acordo com as alegações da reitoria da USP, os estudantes foram eliminados pelo sumiço de documentos, pelo saque do bandejão e por depredação do patrimônio público.

Porém, na verdade, não existiu nenhuma sindicância ou destacamento de uma comissão para apurar esses fatos durante a instauração e a execução do processo administrativo que levou à nossa condenação.

A tal prova "cabal" foi o depoimento de um funcionário da mesma Coseas, que afirmou que "todos" os estudantes que foram processados estavam dentro do espaço.

Mas estamos tratando de um prédio fechado, com três andares, que estava repleto de alunos -muitos do lado de fora, só assistindo a tudo.

Quando os estudantes foram chamados para depor, quem disse estar do lado de fora foi absolvido.

Outros, como eu, permaneceram em silêncio. Fizemos isso tanto por orientação dos advogados -que alegavam que, após ser citado em processo administrativo, é necessário o prazo de um mês para apresentação de defesa prévia, além de outras questões jurídicas- quanto por saber se tratar de um processo de conotação política e não disciplinar.

Quem ficou em silêncio foi eliminado sob a alegação de que "deixou de prestar depoimentos nas oportunidades agendadas, razão pela qual imputam-lhe os fatos. (...) Assim como deixou de providenciar elementos de prova no prazo legal, passíveis de demover essa comissão da convicção de sua identificação pelos agentes da administração."

No meu caso, curiosamente, defendi o trabalho de conclusão na USP no dia 15 de dezembro de 2011, resultado de um projeto realizado dentro de uma escola pública ao longo de dois anos.

Eu fui eliminado da universidade no dia 16. Solicitei a colação de grau. No dia 3 de janeiro de 2012, ela me foi negada.

Ao mesmo tempo, fui aprovado em concurso para ser professor da rede pública estadual. Fui pago (recebi uma bolsa) durante quatro meses para realizar um curso de formação docente e fui considerado apto a tomar posse no dia 6 de janeiro. Mas, sem o diploma, não pude assumir o cargo, apesar de ter lutado até o ultimo dia.

Acredito que a USP deva se modernizar. Isso deveria ser feito, no entanto, unindo todos os setores que compõem a universidade. Não faremos isso separando, dividindo, eliminando e punido quem quer uma universidade publica e de qualidade para todos.

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