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Casamento conveniente

A visita da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, ao Brasil ofereceu uma imagem mais adequada dos relativos avanços na relação entre os dois países do que indicava o desambicioso encontro entre a presidente Dilma Rousseff e seu colega Barack Obama em Washington, dez dias atrás.

O Brasil ocupa uma posição secundária na pauta de interesses estratégicos dos EUA. Do ponto de vista geopolítico e militar, o país não tem presença nos grandes conflitos internacionais, não é uma potência bélica, nem tem maiores ambições nesse terreno.

É irreal, nesse quadro, esperar um salto de importância do Brasil na interlocução com os EUA. Isso não significa que inexistam avanços nas relações, sobretudo em áreas cuja lógica ultrapassa a do entendimento entre governos.

É crescente a importância econômica do Brasil para os EUA.

Entre os Brics, o país tem a maior parcela de investimento externo direto na economia americana. Além disso, as importações de produtos dos EUA pelo Brasil triplicaram desde 2004, e o explosivo consumo de brasileiros que vão àquele país é bem-vindo neste período de crise.

Não à toa, Hillary veio ao Brasil para discursar a empresários locais, embora sua sugestão de um acordo de livre-comércio não anime a indústria nacional.

O Brasil também se beneficia, neste momento, de uma imagem internacional positiva. Não é prejudicial ao governo Obama associar-se, ainda que sem grande ênfase, a uma nação que é tida como exemplo de combate à pobreza e de crescimento, ainda que moderado, com adoção de políticas econômicas sensatas.

O Brasil é a mais bem-sucedida democracia entre as grandes nações emergentes. Serve de contraponto simbólico a países como China e Rússia. E a ordem democrática sempre foi tomada por Washington como um fator de estabilidade nas relações internacionais.

Visto desse ângulo, são mais compreensíveis tanto o exagerado elogio feito por Hillary à transparência de governo e ao combate à corrupção no Brasil, que estabeleceriam um "padrão mundial", quanto a cautelosa anuência à ambição brasileira de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

A relação entre os dois países vive um momento de pragmático casamento de conveniência. É do interesse do Brasil reforçar esses laços com os EUA. Sem ilusões de grandeza, mas com ambição para aproveitar as oportunidades que ora se apresentam.

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