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Dilma cresce

Aprovação da presidente chega à melhor marca, o que propicia à sucessora emancipar-se em parte de seu criador político, Lula

O governo Dilma Rousseff se aproxima do primeiro ano e meio de exercício com 64% de aprovação popular, conforme a pesquisa Datafolha divulgada ontem.

É a melhor marca desde logo após a posse (47% em março de 2011), índice também superior aos obtidos por Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva no mesmo ponto de seus respectivos mandatos.

Das explicações para esse resultado, a mais persuasiva será a econômica. Apesar da redução no ritmo, o crescimento tem se mantido apreciável, perto de 3% ao ano. O ímpeto inflacionário que se temeu no ano passado foi detido. Como atesta a pesquisa, um tom otimista comanda as expectativas quanto ao poder aquisitivo do entrevistado e ao desempenho da economia.

Ao mesmo tempo, causa estranheza que o governo seja bem avaliado quando o noticiário está de novo repleto de escândalos que atingem situação e oposição, tornando ainda mais generalizada a dedução de que ninguém -ou quase ninguém- se salva.

A presidente conseguiu afastar sua imagem desse pântano. Tratou com alguma dureza os excessos de apetite da imensa base parlamentar incrustada em seu governo. Deixou cair toda uma fileira de ministros, postos sob desconfiança pública por evidências divulgadas pela imprensa.

Não faltou algo de maquiavélico nesta última atitude. As quedas de auxiliares foram propícias para que ela compusesse uma equipe mais à sua imagem e semelhança, enquanto projetavam sua fama de intransigente com "malfeitos" na administração.

A pesquisa mostra que os índices de aprovação cresceram em especial nas camadas associadas a maior renda e melhor acesso à informação, nas quais se presume que temas político-institucionais encontrem mais eco.

Aos poucos, Dilma Rousseff se emancipa de seu criador político. Lula segue favorito para a sucessão de 2014, com 57% das preferências como candidato governista, mas quase um terço do eleitorado optaria hoje pela criatura.

Essa clivagem reflete o desdobrar de interesses que começam a se mostrar díspares, quando não conflitantes. Foi assim no caso da chamada CPI do Cachoeira, que Lula insuflou sob o risco de enviar o incêndio para o lado da sucessora.

É implausível cogitar de rompimento entre criador e criatura, desfecho que seria inconveniente para ambos. Mas há indícios de que a separação de águas tende a deixar o legado populista sob a égide de Lula, enquanto a atual presidente cultiva uma imagem mais voltada a valores de classe média.

Numa coalização governista tão desmesurada, as principais tensões continuarão sendo internas.

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