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Sarkozy balança

O efêmero dividendo eleitoral auferido pelo francês Nicolas Sarkozy, do UMP (centro-direita), com a morte do terrorista Mohamed Merah, há menos de um mês em Toulouse, foi insuficiente para lhe dar a vitória no primeiro turno.

Fato inédito, o presidente candidato à reeleição ficou em segundo lugar no pleito. Vitorioso, e agora favorito no segundo turno, o socialista François Hollande teve 28,6% dos votos válidos (só 1,4 ponto percentual a mais que Sarkozy).

Em terceiro lugar, com surpreendentes 17,9%, despontou Marine Le Pen, da Frente Nacional (extrema direita). Ao deslocar para a quarta posição Jean-Luc Mélenchon (Frente de Esquerda, 11,1%), Le Pen tornou-se alvo do assédio de Sarkozy e Hollande. Mesmo que mais da metade de seus eleitores vote no atual presidente, o mais provável, isso ainda seria insuficiente para elegê-lo, indicam as primeiras pesquisas. Mas, com duas semanas até a nova rodada, o desfecho permanece imprevisível.

O que se pode dizer ao certo é que o voto francês foi de protesto contra a crise financeira que se abate sobre a Europa desde o vendaval de 2008/09. Mais precisamente, contra a política de cortes de gastos do governo preconizada pela ortodoxia financeira e pela Alemanha, um dos raros países da Europa a manter o vigor econômico apesar da austeridade.

O contraste entre os vizinhos é marcante. Enquanto alemães arrochavam salários e aumentavam a produtividade, na França o custo da mão de obra aumentou ininterruptamente (20%, entre 2002 e 2011). A despesa estatal representa 56% do PIB francês, contra a média de 43% dos países desenvolvidos. O desemprego está em 10%, contra 5,8% na Alemanha.

Nesse quadro, a receita liberal clássica -reapertar os cintos- torna-se ainda mais impopular nesse país de larga tradição estatista. Se a crise já varreu governos social-democratas no Reino Unido, na Espanha e em Portugal, por que pouparia um de centro-direita?

O socialista Hollande, ao menos, soa mais coerente quando promete ir além da disciplina nas contas públicas para reativar a economia. Sarkozy, nem tanto, pois submeteu a França ao compromisso europeu de reduzir o deficit a zero até 2016. Não lhe será fácil convencer o eleitor de que mudou de opinião.

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