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Socialismo à francesa

Vitória de François Hollande na França não desfaz limitações objetivas para combater crise com incentivo ao crescimento econômico

A eleição do socialista François Hollande para a Presidência da França é encarada por muitos como um ponto de mutação na economia e na política da Europa. O apelo do socialista contra a austeridade fiscal e por um novo contrato social seria o prenúncio de uma alternativa à recessão.

Mesmo que Hollande cumpra muito do que prometeu, as mudanças serão pequenas. Ele propunha zerar o deficit nas contas do governo francês em 2017, por exemplo, só um ano depois do compromisso de Nicolas Sarkozy.

O cobertor é curto. O Estado francês é o que mais gasta (56% do PIB) entre os grandes da zona do euro.

O programa socialista se orienta por mais distribuição de renda. Se implantado, aumentaria os tributos sobre lucros de bancos, altos salários e rendas financeiras.

Hollande sabe, porém, que isso não bastaria para deslanchar o crescimento da economia. Daí a proposta de cortar impostos sobre os lucros empresariais que forem reinvestidos -algo de positivo, quando se considera a relutância atual das empresas.

Causa desconfiança, no entanto, a falta de medidas para melhorar a competitividade da economia francesa. Um dos maiores problemas é o custo da mão de obra, superior à média europeia. Barateá-lo poderia fazer grande diferença para gerar empregos, mas não se fala disso no programa socialista.

Outro ponto negativo é a promessa de retomar a idade mínima para aposentadoria aos 60 anos, revertendo o aumento para 62 anos adotado a duras penas por Sarkozy. Frente à restrição financeira e à urgência de recursos para estimular a economia, beira a insensatez.

Quanto às relações franco-alemãs, cruciais para a estabilidade da União Europeia, o resultado pode ser menos preocupante do que parece. É fato que Hollande ameaçou não assinar o pacto fiscal da zona do euro se não fossem incluídos estímulos ao crescimento. Mas os europeus já esboçam tentativas de atrair o socialista.

A Comissão Europeia, os alemães e o Banco Central Europeu agora falam em acordo para o crescimento. No próximo encontro de líderes, ao final deste mês, será debatida a emissão conjunta de títulos para financiar projetos de infraestrutura, o que há pouco tempo era tabu. Há espaço para convergência, portanto.

Apesar disso, haverá ruídos nas próximas semanas. Em junho ocorre a eleição para a Assembleia Nacional, último bastião controlado por conservadores. Se assumirem o controle do Parlamento, os socialistas terão poder inédito, pois já detêm o Senado e boa parte dos governos municipais e regionais.

Até lá, é certo que o presidente Hollande manterá seu discurso de contestação à austeridade, para evitar a impressão de concordar depressa demais com os vizinhos alemães. Mas dificilmente conseguirá distanciar-se deles.

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