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Miopia cambial

Desvalorização do real liderada pelo governo traz benefícios de curto prazo para indústria nacional, mas pode reativar a alta de preços

O preço do dólar flutua em torno de R$ 2 nesta semana, 16% acima da média de 2010 a 2011. Mesmo neste governo de ativistas da desvalorização do real, teme-se que o excesso cambial se torne indigesto no que diz respeito à inflação.

Uma taxa de câmbio mais favorável (desvalorizada) seria um incentivo à estagnada produção industrial doméstica, que tem prejudicado o crescimento da economia.

Um real mais fraco tende a encarecer produtos importados e a baratear mercadorias nacionais exportadas, se outros fatores de custo domésticos ficarem constantes, ou se a empresa nacional não importar muita matéria-prima ou componentes para seus produtos.

Ressalte-se a relevância do outro lado da moeda desvalorizada: sob menos pressão da concorrência de importados baratos, empresas nacionais podem elevar preços ou fazer menos esforço para reduzi-los. Por fim, a alta do dólar pode encarecer produtos nacionais cotados em moeda americana, como os agropecuários, o que tende a elevar seus preços também aqui.

No balanço final, uma taxa de câmbio mais favorável tende a incentivar exportações ou, ao menos, conter importações, reservando fatias maiores do mercado doméstico para empresas brasileiras.

O governo atuou com denodo para desvalorizar o real. Limitou a entrada de dólares com um aumento de imposto sobre aplicações financeiras do exterior e transações cambiais na Bolsa de Mercadorias e Futuros. Conta agora com auxílio do Banco Central, que tem comprado dólares além da conta habitual. A moeda americana escasseia e começa a encarecer.

A redução dos juros e a lentidão da economia tendem a atrair menos dólares para investimento especulativo (ganhar com a diferença entre juros brasileiros e os do mundo rico) ou na produção.

A incerteza sobre a nova política econômica deixa o investidor estrangeiro mais arisco. A nova rodada de tensão nas finanças mundiais acentua a aversão ao risco de investir em países ditos emergentes, como o Brasil.

O impacto efetivo da desvalorização nos preços é ainda incerto. Dependerá da combinação de vários fatores, como o tempo em que o real permanecer barato, o efeito da crise no preço dos produtos no mercado mundial (mesmo mais altos em real, os preços em dólar podem cair no exterior) e o ritmo da atividade econômica no Brasil.

No entanto há risco de que a desvalorização limite a queda de preços, reativando pressões inflacionárias. Além disso, ela pode terminar solapando a campanha de redução de juros e, por tabela, o estímulo da economia.

É por isso que tais políticas, de alvo em aparência certeiro, precisam mirar além do curto prazo.

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