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Arreglo na comissão

Governo e oposição ensaiam acordo espúrio que confirma prognósticos de omissão e cumplicidade nos mal iniciados trabalhos da CPI

Já cansou, de tantas vezes repetido, o clichê segundo o qual é comum que as CPIs terminem "em pizza". Mais raro, entretanto, é que já comecem nesse rumo.

Um acordo em gestação entre a base governista e representantes da oposição prenuncia esse final infeliz para a investigação sobre as relações suspeitas do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos.

Os primeiros requerimentos aprovados deixam claro que a estratégia é restringir o inquérito a personagens secundários do escândalo, poupando governadores suspeitos de envolvimento.

Pesa sobre o goiano Marconi Perillo, do PSDB, por exemplo, a denúncia de ter permitido influências indevidas de Cachoeira em sua administração.

Segundo a Polícia Federal, três cheques, totalizando R$ 1,4 milhão, teriam sido entregues no Palácio das Esmeraldas, sede do governo goiano, por emissários de Cachoeira. Resultariam da venda a ele de uma casa de Perillo, tese que o mandatário tucano contesta.

Há mais: grampeados pela PF, personagens ligados a Cachoeira comemoram nomeações de apaniguados no governo goiano. A chefe de gabinete de Perillo, demitida após a eclosão do caso, teve gravadas conversas suas com o empresário; uma delas se referia cripticamente a "um maior" a seu lado durante a ligação.

Para tentar esclarecer tais suspeitas, seria útil quebrar o sigilo telefônico do governador de Goiás. A movimentação nesse sentido teve, contudo, vida curta. Seu colega de partido e senador Álvaro Dias (PSDB-PR) reagiu na CPI: "Se houver deliberação a respeito do Perillo, vamos dar o troco".

O troco seria requerer a quebra de sigilo de outros dois governadores, estes da base governista: o petista Agnelo Queiroz, do Distrito Federal, e o peemedebista Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, também suspeitos de negociação com o grupo do empresário.

Em conversas grampeadas, assessores de Agnelo Queiroz teriam dito a um aliado de Cachoeira que o "01" queria falar com ele. Assim como no caso do "maior" goiano, nega-se que "01" seja uma referência ao governador do DF.

Um esquema de propinas, ainda segundo a investigação da PF, estaria acertado entre o governo de Agnelo Queiroz e a empresa Delta, que faz a coleta de lixo no DF.

Quanto a Sérgio Cabral, os vídeos de suas confraternizações com o dono da Delta, Fernando Cavendish, seriam apenas uma nota ilustrativa do fausto em que se comprazem os governantes, não tivesse a empreiteira tantos contratos com a administração fluminense.

Tais indícios ficarão no forno, em fogo baixo, até segunda ordem. Só a CPI não vê a gravidade deles.

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