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Egito livre e dividido

Candidato da Irmandade Muçulmana sai na frente e deverá enfrentar segundo turno contra representante do antigo regime militar

Se não houver reviravoltas até o anúncio dos resultados oficiais, em alguns dias, terá prevalecido a lógica no turno inicial das primeiras eleições democráticas em mais de 5.000 anos de história do Egito.

Mohamed Mursi, o candidato da Irmandade Muçulmana, obteve, pela apuração extraoficial, 25% dos votos. Seguiu-se Ahmed Shafiq, ex-comandante militar e ex-premiê do ditador Hosni Mubarak, com 24%. Eles devem enfrentar-se no segundo escrutínio em meados de junho.

Embora seus nomes nem sempre aparecessem como favoritos nas pesquisas, eles representam, respectivamente, as duas principais forças do país: religiosos, que passaram décadas na clandestinidade, organizando-se como principal grupo de oposição, e o establishment militar. Mesmo depois de sofrer um revés com a deposição de Mubarak, os militares conservam grande poder político e econômico, além de seguir no comando das instituições do Estado.

São também, ambos, figuras pouco carismáticas. Dependerão de suas facções no segundo turno, que se afigura acirrado (ainda que Mursi, sem vínculos com o regime anterior, tenha mais chance de angariar apoio), e num eventual governo. Se, de um lado, isso afasta o risco de aventuras, por outro deixa órfãos atores importantes.

Os maiores derrotados são Hamdin Sabahi, da esquerda laica, que ficou com 22%, Abdel Moneim Abou Fotouh, dissidente da Irmandade, islâmico mais liberal (18%), e Amr Moussa, ex-secretário-geral da Liga Árabe e favorito da comunidade internacional (11%).

O fracasso de candidatos menos comprometidos com o islã ou com os militares, em especial Sabahi, deixa uma incógnita. Eles representavam a classe média que iniciou os protestos na praça Tahrir, deflagrando a Primavera egípcia.

Como esses setores também não foram bem nas eleições legislativas (partidos laicos detêm só 15% das cadeiras do Parlamento), podem querer retomar manifestações, gerando mais turbulência política.

Embora os egípcios se vejam agora obrigados a escolher entre os religiosos e a velha ordem, há um certo consenso na sociedade em relação ao que deve ser feito.

A grande maioria dos egípcios é pela economia de mercado e defende que a lei islâmica, a sharia, sirva ao menos como fonte de inspiração para a lei civil. Apesar da retórica inflamada contra Israel na campanha, ninguém parece seriamente disposto a romper o tratado de paz e indispor-se com os EUA.

Com todas as dificuldades e percalços à frente, é fato a comemorar que o maior país árabe tenha finalmente conseguido realizar uma eleição democrática e competitiva.

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