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Vinicius Mota Uma bronca, por favor SÃO PAULO - Alguns arranjos de poder dificultam muito o escrutínio sobre como opera o núcleo decisório. Pense em organizações eclesiásticas, militares ou diplomáticas. Em todas elas a hierarquia, enraizada nas condutas individuais e reiterada nos rituais coletivos, ajuda a manter o que importa longe dos olhos do público. Interpretações de palavras ambíguas nos discursos, de gestos dos chefes, de decisões do cerimonial, de fotos oficiais -além das fofocas e anedotas em torno do "núcleo duro"- tornam-se meios indiretos de acessar o que o sistema reprime. Curiosamente, a presidente Dilma montou um esquema eficiente de controle de informações sensíveis. Não se baseia, contudo, no hábito de hierarquia dos auxiliares, atributo de resto estranho aos políticos. Já a personalidade da presidente -introspectiva e avessa ao exibicionismo pessoal que integrava o exercício do poder sob FHC e Lula- decerto contribui para isso. A escolha de assessores sem luz própria, mais cumpridores de tarefas que formuladores de caminhos, também. Outro estratagema da presidente é limitar estritamente a atuação dos principais ministros. A ninguém é permitido entrar no terreno alheio. A consequência é que nenhum auxiliar, exceto a chefe, enxerga o governo como um todo. Com as tarefas setorizadas, fica mais fácil para a presidente determinar a origem de vazamentos de informação. Reprimendas mantêm sob constante pressão os ministros -muitos desenvolveram um temor freudiano de conversar com jornalistas, mesmo "off the records". Como ocorre em todo sistema de repressão de informações, as anedotas começam a servir de válvula de escape. Tomar uma bronca da presidente numa reunião coletiva, diz uma delas, é sinal de prestígio do ministro espinafrado. Pior, muito pior, é ser vítima do contínuo silêncio presidencial. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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