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Luiz Guilherme Piva

TENDÊNCIAS/DEBATES

Perdas e ganhos do IPO

Se consegue suplantar riscos, a abertura de capital traz sempre modernização e democratização à gestão das empresas atingidas

A oferta de ações do Facebook alcançou mais de US$ 100 bilhões, o que é notável para uma empresa nova e de um setor que já foi alvo de derrocadas anteriores. Em termos de mercado de capitais, o evento ilustra bem alguns dos principais aspectos de um IPO (oferta pública de ações, na sigla em inglês).

O primeiro é o da precificação exagerada. Ela tende a se impor nas vésperas de todo IPO, pelas ações e pelas expectativas dos acionistas que estão vendendo participação, ajudados por corretores, comissionados, estruturadores, otimistas e incautos.

Apesar da percepção de valor excessivo, no entanto, quase sempre há compradores chancelando as cotações. Isso se deve à pulverização, pela qual se dilui, no comprador de algumas cotas, a sensação de que está pagando muito caro pelo ativo total, e à fé dos agentes de que sua racionalidade individual vencerá a irracionalidade coletiva -mesmo com os exemplos contrários das crises anteriores.

Quando ocorre tal chancela, os dias que se seguem ao IPO podem ser demorados e sofridos: a recuperação de preços nem sempre repõe a aposta dos compradores, ao menos no tempo esperado. Se a ansiedade (ou o prejuízo) dos novos acionistas for grande, pode ter início um movimento de venda com forte desvalorização -confirmando nova vitória do ilogismo coletivo.

Nesse caso, só os que venderam participação poderão restar com algum ganho no processo.

Outro aspecto é o da consistência da empresa em oferta. A depender da desconfiança, o IPO ocorrerá sem valorização. No caso de empresas de internet, paira a convicção de que o que não é sólido se desmancha com mais facilidade do que os são. Que, como se sabe, se desmancham também.

O temor é de que o que hoje dá sustentação a empresas desse tipo (a adesão dos usuários) amanhã não exista mais. Apesar das qualidades da empresa, do mesmo modo como suplantou em poucos anos outras líderes, poderá ela também ser ultrapassada por novidades.

Por isso empresas líderes de tecnologia têm sido condenadas a adquirir (por valores às vezes elevados) concorrentes que emergem com sucesso e mesmo alguns ainda incipientes -qualquer preço vale a pena para eliminar a ameaça.

Nesse caso, se a desconfiança predominar antes e depois do IPO, a avalanche viciosa levará a todos, vendedores e compradores.

O terceiro aspecto é o de que a abertura de capital é sempre um processo modernizador e democratizante da gestão das empresas. Não só oferece a muitas pessoas a possibilidade de compartilhar os ganhos (há o risco reverso também), como instaura compromissos de governança, investimento, transparência e responsabilidade que a gestão monocrática não acolhe sem desconforto.

Se passar de forma consistente e realista pelo IPO, a chance de a empresa vir a se desenvolver de forma sustentada aumenta. E com isso se fortalece um paradigma positivo para o crescimento, a modernização e a democratização de outras empresas e do mercado de capitais.

Caso em que todos poderão obter ganhos.

LUIZ GUILHERME PIVA, economista, mestre e doutor (USP) em Ciência Política, é diretor da LCA Consultores. Publicou Ladrilhadores e Semeadores (Editora 34) e A Miséria da Economia e da Política (Manole).

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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