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Claudia Antunes

O intrigante Mendes

RIO DE JANEIRO - Graças à incompetência tucana e demista para fazer uma oposição efetiva e ao antilulismo visceral de parte da sociedade, o ministro do STF Gilmar Mendes foi alçado à vanguarda de combate ao governo passado -ao lado de figuras mais histriônicas do que sérias, como Demóstenes Torres.

Só esse histórico explica que ele conte com plateias dispostas a endossar, em princípio, uma acusação grave, a de que foi alvo de chantagem de Lula para que ajudasse a adiar para depois das eleições o julgamento, no STF, dos réus do mensalão.

O relato de Mendes enfrenta desmentidos, e não apenas de Lula e de Nelson Jobim, participantes de um encontro que nunca deveria ter ocorrido. O ministro Lewandowski, revisor do processo do mensalão, diz que não foi pressionado pelo ex-presidente. O ex-ministro Sepúlveda Pertence diz que não foi procurado para convencer a ministra Cármen Lúcia a aderir à tese do adiamento.

Mendes usa verve de herói republicano e cita votos seus favoráveis aos petistas Palocci e Mercadante. No entanto sua velha advertência contra um "Estado policial", por exemplo, se apoiou em denúncia nunca provada, a de que agentes federais teriam grampeado uma conversa dele com Demóstenes.

No escândalo atual, há ao menos duas contradições intrigantes. Mendes tem dito que Lula irradiava boatos destinados a envolvê-lo com Carlos Cachoeira. Mas informações relativas à relação dele com Demóstenes, que poderiam dar margem a tal ilação, só tiveram divulgação ampla depois de sua entrevista à "Veja".

O ministro também diz querer preservar a autoridade do STF. Mas quando evoca o fantasma da Venezuela para alertar contra uma suposta interferência do Executivo na Justiça obtém o efeito oposto, de semear dúvidas sobre a autonomia do Supremo e o resultado do julgamento, seja este qual for.

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