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Infraestrutura relegada

Dilma Rousseff ganhou fama de administradora exigente, mas seu governo descura de obras importantes para destravar economia nacional

Em 1987, a ferrovia Norte-Sul tornou-se um símbolo dos escândalos da Presidência de José Sarney com a revelação -por Janio de Freitas, nesta Folha- de fraude na concorrência da obra. Um quarto de século depois, arrisca converter-se no emblema de incompetência dos governos desenvolvimentistas do PT no quesito infraestrutura.

Se um dia forem concluídos, os mais de 2.200 km previstos interligariam Açailândia, no Maranhão, a Estrela d'Oeste, no noroeste paulista. Açailândia, por sua vez, tem conexão com o porto de São Luís -alternativa mais vantajosa para escoar a produção agrícola do cerrado do que o transporte por caminhão até os portos do Sul e do Sudeste, como Paranaguá e Santos, distantes do hemisfério Norte.

Só o trecho de Palmas (TO) a Açailândia se encontra em condições operacionais. Os 855 km de Porto Nacional (TO) até Anápolis (GO) deveriam ser inaugurados em julho, mas ficaram para setembro de 2013.

O adiamento decorre da incapacidade da estatal Valec, responsável pela ferrovia, em manter cronogramas. Sua diretoria foi trocada em julho de 2011, entre as muitas denúncias que assolaram o Ministério dos Transportes. A direção atual acusa a anterior de privilegiar o assentamento de trilhos e descuidar das obras de proteção.

Resultado: em vários locais a ferrovia vem sendo tomada pelo mato, e barrancos resvalam sobre os dormentes. Como a estatal deixou contratos com empreiteiras vencerem, as obras estão paralisadas, e os trabalhos de contenção não podem ser realizados. Os R$ 8 bilhões já investidos estão ameaçados.

A Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) estima que 46 milhões de toneladas de soja para exportação sejam produzidas acima do paralelo 16, ou seja, ao norte de Anápolis. Sem a saída pelo Nordeste que a Norte-Sul ofereceria, calcula-se que o país perca em torno de R$ 12 bilhões por ano.

Mesmo que fosse concluída amanhã, no entanto, a ferrovia por si só não acabaria com o problema. Boa parte da produção não poderia ser embarcada nos trens, porque as obras de quatro pátios de carga não foram sequer iniciadas. A Valec diz que os editais para licitá-las sairão no mês que vem.

Dilma Rousseff passou quase cinco anos como chefe da Casa Civil de Luiz Inácio Lula da Silva. Ganhou então fama de administradora exigente das obras de infraestrutura -a "mãe do PAC", que Lula impôs ao PT como sucessora.

Transcorrido mais de um terço do mandato da presidente, a proliferação de maus exemplos como o da Norte-Sul põe em xeque essa imagem, cultivada com tanto zelo por Dilma e seus ministros.

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