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Ponto final para Mubarak

O ex-ditador egípcio Hosni Mubarak foi condenado à pena de prisão perpétua por conivência nas mortes de civis durante a repressão aos protestos pró-democracia que forçaram sua saída do poder. Um fato histórico, em sentido pleno.

O presidente deposto, de 84 anos, ouviu a sentença dentro de uma jaula montada no tribunal, deitado numa maca.

A imagem serve como signo dos avanços alcançados pela sociedade egípcia na direção da democracia e da garantia de direitos civis e políticos. Ocorre que a realidade é mais ambígua e complexa do que os muitos momentos simbólicos produzidos pela revolta popular no Egito nos últimos meses.

A própria saída de Mubarak do poder não coroou uma revolução tal como era desejada pelos manifestantes da praça Tahrir, no Cairo. Tratou-se, a rigor, de uma solução de compromisso, por meio da qual os militares conservaram poder político e econômico, além de seguir no comando da maior parte das instituições do Estado.

Teme-se que o espetáculo ora protagonizado por Mubarak cumpra função semelhante. No mesmo julgamento, foram absolvidos comandantes do aparato de segurança e policiais que teriam cometido ou ordenado assassinatos.

Opositores do ex-ditador denunciam que a absolvição dos responsáveis pelos crimes poderá favorecer Mubarak quando seus advogados recorrerem da decisão. A própria corte que o condenou afirma não ter encontrado provas que o ligassem diretamente aos assassinatos. A sentença favorável aos altos oficiais das forças de segurança do Estado já contribui, de toda forma, para preservar um dos alicerces do velho regime ditatorial.

A decisão ocorre duas semanas antes do segundo turno da primeira eleição presidencial democrática do país. Um dos candidatos no páreo é Ahmed Shafiq, ex-premiê de Mubarak e representante do establishment militar. Sua vitória representaria novo golpe contra os anseios de mudança manifestados nos protestos dos últimos meses.

O outro postulante, Mohamed Mursi, candidato da Irmandade Muçulmana, tampouco representa os manifestantes de primeira hora, de ideário laico e liberalizante. Mas a insatisfação com o veredicto motivou declarações de apoio a Mursi por adversários do velho regime derrotados no primeiro turno.

Apesar de instável, o processo de reformas políticas não pode ser tratado como uma farsa manipulada pelos militares há décadas no poder. O que lhes resta de controle sobre o Egito ficará evidente só na votação, daqui a duas semanas.

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