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Dupla dinâmica

Enquanto Marta Suplicy evita apoio a Haddad, Serra fecha com PR, do ex-ministro Alfredo Nascimento, alvo da "faxina" de Dilma Rousseff

Causou constrangimento, conforme se noticia, a ausência da senadora e ex-prefeita Marta Suplicy no lançamento de Fernando Haddad como candidato do PT à Prefeitura de São Paulo.

Um deputado estadual petista, Simão Pedro, chegou a dizer que o gesto "foi recebido como desrespeito ao partido e à militância".

A frase talvez revele o quanto ainda prevalece em certos setores do partido a velha concepção leninista de uma férrea disciplina interna, conhecida pelo nome de "centralismo democrático".

Foi mais do que "centralista", contudo, a decisão de escolher Haddad. Deveu-se, sobretudo, ao personalismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Inspirado pelo sucesso de sua estratégia para a própria sucessão, quando elevou Dilma Rousseff de um virtual desconhecimento à Presidência da República, o petista confia repetir a mágica no âmbito municipal.

Lula já havia tomado sua decisão quando, na primeira pesquisa Datafolha sobre o pleito, em setembro do ano passado, Marta Suplicy aparecia com 31% de simpatizantes, contra 2% de Haddad -que, até agora, pouco vai além disso.

A aposta tinha, de qualquer modo, o significado de renovar quadros e evitar que os altos índices de rejeição da ex-prefeita se traduzissem em provável derrota num eventual segundo turno.

Menos astuciosos foram os acenos de Lula em torno de uma aliança entre Haddad e o atual prefeito Gilberto Kassab (PSD). A manobra terminou empurrando José Serra (PSDB) para a disputa, enquanto o ex-ministro da Educação soletrava as frases que podia para não desmentir nem endossar um acordo tão descaradamente oportunista.

Por sua vez, transformado em candidato municipal, o experiente tucano movimenta-se com desembaraço na mixórdia que caracteriza o sistema político-partidário no Brasil. Acaba de fechar acordo com o Partido da República (PR), cujo presidente, Alfredo Nascimento, foi ejetado pela presidente Dilma Rousseff do Ministério dos Transportes, em meio a acusações de corrupção na pasta.

A aliança, se não enobrece a postulação do PSDB, acrescenta-lhe cerca de um minuto e meio no horário de propaganda eleitoral, fator que tem suplantado todas as considerações de ordem programática ou ética quando se trata de definir parcerias eleitorais.

Natural, portanto, que o campeão de votos Tiririca, deputado pelo PR paulista, elogie Serra e o considere "em pessoa" um ótimo argumento para conquistar o eleitor paulistano: "É só correr para o abraço", assegurou.

Já o tucano preferiu rechaçar a hipótese de reações negativas: "Estamos fazendo aliança com partido, não com pessoas", sofismou. Por fim, Nascimento foi mais claro: "A política é assim. Dinâmica".

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