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União contra o caos

Cessado o efeito calmante da maciça injeção de recursos promovida pelo Banco Central Europeu (BCE) no início do ano, a realidade de recessão e crise bancária na periferia europeia volta a se impor com toda a força.

Além da incógnita política na Grécia -que terá novas eleições no dia 17-, a situação na Espanha é crítica. A capitalização de € 19 bilhões do Bankia, um banco regional com pesadas perdas no crédito imobiliário, reforçou a desconfiança de que o sistema financeiro espanhol precisará de dezenas de bilhões de euros em novo capital -recursos que o Estado não tem.

A chegada da Espanha à UTI financeira reafirma o diagnóstico de que não será possível para a periferia, sozinha, escapar do ciclo vicioso de austeridade e recessão. A persistir o curso atual, a ruptura do euro será inevitável, pelo esgotamento da legitimidade política do projeto da moeda única.

Para reverter tal tendência, será necessário acelerar a integração fiscal e financeira. O objetivo é romper os vasos comunicantes entre as contas dos governos e os bancos de cada país. Desapareceria o conceito de bancos nacionais, ao menos para instituições capazes de abalar o sistema financeiro.

Uma primeira opção é usar os fundos europeus de resgate já constituídos, de € 700 bilhões, para capitalizar diretamente bancos debilitados. Seria instituído ainda um seguro de depósitos, para toda a zona do euro, com recursos compartilhados, além de uma agência reguladora com autoridade sobre toda a região.

Até agora, a união bancária vinha sofrendo oposição da Alemanha, que teme a falta de disciplina financeira nos outros governos, o afrouxamento das reformas e o aumento da conta que lhe caberia pagar. É uma preocupação legítima, mas, no quadro atual, sua hesitação pode levar ao caos.

Viabilizar esse passo derradeiro é o ônus que cabe à Alemanha, país que mais se beneficiou com o mercado cativo para suas exportações criado pelo euro. Aos outros, em especial à França, que mantém em sua cultura política uma ilusão de autarquia, resta aceitar que a perda de soberania é inescapável.

Trata-se de construção institucional difícil, que enfrentará resistência política em cada país. Mas a procrastinação tampouco é opção.

A próxima cúpula dos chefes de Estado europeus, em três semanas, parece inclinada a dar o passo inicial no pedregoso caminho.

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