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O município cearense de Jaguaribara, situado a 255 km de Fortaleza, pode orgulhar-se de responder a um requisito civilizacional que, em grande medida, é desprezado em centros como São Paulo e Rio.

Pesquisa divulgada recentemente pelo IBGE, com base no Censo de 2010, mostra que Jaguaribara é a cidade brasileira com melhores condições para a locomoção de cadeirantes. Com pouco mais de 8.000 moradores, 75,5% de seus logradouros têm rampas para a circulação de cadeiras de rodas.

Em São Paulo, a proporção cai a 9,2%, pouco à frente do Rio, com 8,9%. Dos municípios com mais de 1 milhão de habitantes, Porto Alegre está em primeiro lugar, com 23,3%. Brasília, em segundo, tem 16,5%. Números evidentemente baixos -e ainda assim notáveis num país em que, na média de seus municípios, tem apenas 4,7% das ruas com tal tipo de acesso.

Os dados contrastam com sinais de um lento, mas inegável, progresso nos equipamentos urbanos. Ampla maioria das cidades brasileiras, segundo o IBGE, dispõe de iluminação pública (96,3%), pavimentação (81,7%) e meio-fio (77%).

Mais uma razão para que a questão das rampas de acesso mereça especial registro. É porque não se pensou no assunto que, já na construção das calçadas, negligenciaram-se as necessidades de quem tem dificuldades para caminhar.

Trata-se de um daqueles casos em que a invisibilidade do problema se configura num círculo vicioso. Quanto mais difícil o deslocamento dos cadeirantes, menor a probabilidade de que se locomovam, e menos óbvia, para a consciência geral, a necessidade de que seus direitos sejam atendidos.

Na verdade, o mero fato de esse tópico estar incluído numa pesquisa do IBGE não deixa de sinalizar uma mudança de mentalidades.

A relevância na melhoria das condições de mobilidade pode ser aquilatada por casos como o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) de São Paulo. Primeiro da América Latina a conquistar o Certificado Internacional de Eficiência, tem 86% de pessoas com deficiência entre os atendentes.

Mais dessas pessoas poderiam desempenhar papéis de semelhante importância para a sociedade se suas necessidades não fossem tomadas por problemas supérfluos.

O fato de que cadeirantes constituam uma parcela pequena dos habitantes de uma cidade não torna menos básica a existência de calçadas adaptadas à sua circulação -coisa que não exige gastos expressivos nem qualquer sofisticação de engenharia, apenas cuidado e respeito.

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