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Carlos Heitor Cony

O valor dos sinais

RIO DE JANEIRO - Não sou especialista em interpretar sinais. Mas o Paulo Coelho é mestre na matéria -ele sabe quando vai chover, se deve ou não deve fazer isso ou aquilo porque esbarrou com um corcunda de óculos escuros. Daí o sucesso que teve e está tendo. Mas o caso do Paulo não é raro, é até antigo.

A mulher de César alertou o marido para não ir ao Senado romano naqueles idos de março. César foi e se deu mal.

Numa biografia de Hitler, de 1976 e escrita por John Toland, leio que o futuro Führer estava tendo dificuldades para chegar ao poder.

Segundo Müllern-Schönhausen, Hitler consultou um vidente chamado Hanussen, que lhe garantiu todas as vitórias neste mundo desde que alguém, na noite de 31 de dezembro de 1933 (Ano-Novo), por acaso noite de lua cheia, fosse à sua cidade natal (Linz) e ao quintal de um açougueiro local, e arrancasse uma determinada planta que continha o sinal do poder.

O próprio Hanussen ofereceu-se para realizar a tarefa. No dia seguinte, trouxe uma raiz suja de terra onde havia uma enigmática mensagem em verso: "Pedras ainda há no caminho ao lugar, mas em três dias, através de um banco, tudo mudará".

De tudo isso, Hitler só entendeu o "através de um banco" (Durch die Bank) e procurou um banqueiro, o barão Kurt von Schroeder, uma das maiores fortunas da Alemanha. Com a ajuda do barão, que convenceu outros banqueiros a fazer o mesmo, todas as pedras foram removidas do caminho para o poder. Ao contrário do poeta Drummond, não havia mais pedra no caminho de Hitler.

Sabemos o resto da história.

No meu caso particular, fico mais com o poeta do que com o Führer. Não esqueço a pedra do caminho. E não conheço nenhum açougueiro em Lins de Vasconcelos, onde nasci -não confundir com Linz, que fica na Áustria.

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