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Passo hesitante

Pacote europeu para socorrer Espanha com € 100 bilhões não acalma investidores; UE terá de caminhar mais na rota da integração financeira

Durou pouco o alívio dos mercados com o pacote de até € 100 bilhões para o saneamento dos bancos espanhóis. Os juros pagos pelo governo do país ibérico ensaiaram uma queda, mas retomaram a alta e fecharam ontem em 6,7%, perto do pico desde o advento do euro.

O desconforto dos mercados permanece porque a ajuda europeia não irá diretamente para os bancos. O dinheiro passará por um fundo de resgate financeiro controlado pelo governo. A dívida pública do país crescerá no mesmo montante. Se for sacado o valor total, o impacto será próximo a 10% do PIB.

Não foi ainda rompida, portanto, a combinação perversa de insuficiência de capital nos bancos e situação precária das finanças do Estado, que se reforçam mutuamente. O pedido de ajuda mostra que o governo espanhol não tem recursos para sanear seus bancos.

Além desse problema de origem, há ainda outros pontos obscuros. A impressão inicial de que as condições do empréstimo seriam mais lenientes do que as propiciadas para Portugal, Irlanda e Grécia pode se mostrar errônea. O mais provável é que a Europa ganhe algum controle adicional sobre as decisões dos bancos e do governo.

Outro ponto de dúvida diz respeito à fonte do dinheiro. Se os recursos vierem do fundo de estabilização europeu, que dispõe hoje de € 500 bilhões, os credores atuais ficarão subordinados -isto é, só serão pagos quando quitada a dívida nova. Por isso, permanece intacto o incentivo para os investidores venderem papéis da Espanha.

A crise espanhola, apesar de sua dimensão e de seu drama, é apenas mais um caso da lógica inescapável da união monetária: compartilhar uma moeda pressupõe também outros compromissos em comum, em especial na política orçamentária e, como já se admite, na regulação do sistema financeiro.

Essa combinação é necessária para garantir que regiões atingidas por crises -e que não contam mais com o recurso de desvalorizar sua própria moeda- possam se reerguer, sem passar por uma depressão, por meio de transferências fiscais temporárias dos outros membros, condicionadas, porém, a reformas e cortes de gastos. Ganha-se ajuda, perde-se soberania.

Tal é a estrutura que já se começa a construir na Europa. A julgar pelo pacote titubeante oferecido à Espanha, está longe de pronta. Contudo o agravamento da crise, precipitado pela recessão que se abate sobre a periferia da União Europeia, pela incerteza eleitoral grega e pela fragilidade dos bancos, impôs algum sentido de urgência.

Os investidores, impacientes com a hesitação, caminham para considerar dois cenários extremos: união fiscal inequívoca ou ruptura da moeda única. A próxima reunião de cúpula europeia, no fim do mês, precisará dar passo mais decidido na direção do primeiro.

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