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Hélio Schwartsman A coqueluche da cidade SÃO PAULO - Arrastões se tornaram a nova coqueluche da cidade de São Paulo. Espalham-se rapidamente e todo mundo tem medo. Trata-se de um problema real de segurança pública para o qual o governo paulista precisa dar uma resposta. Cidadãos amedrontados são ruins para os negócios e para a política. O mais interessante desse tipo de fenômeno, porém, é o que ele revela sobre nossa forma de pensar. Investigando como as pessoas estimam a frequência de algum evento ou categoria, Amos Tversky e Daniel Kahneman descobriram que seguimos a lei do menor esforço: já que o cérebro não carrega tabelas atuariais, nós nos apoiamos na facilidade com que exemplos vêm à nossa mente. Os pesquisadores batizaram esse efeito de heurística da disponibilidade. Suas implicações são profundas. Para começar, ficamos com uma imagem distorcida da realidade. Paul Slovic mostra que a percepção pública de riscos é uma ficção. Nos EUA, derrames provocam duas vezes mais mortes que acidentes; não obstante, 80% acham que os óbitos pela segunda causa são mais comuns. Acidentes ganham manchetes; AVCs, não. Essa heurística faz com que temamos as coisas erradas. Sentimos calafrios só de pensar em ataques de tubarões, terroristas e acidentes aéreos, mas quase não nos comovemos diante de choques elétricos, quedas e afogamentos, que são perigos muito mais mortíferos e frequentes. Para tornar as coisas ainda mais precárias, Slovic sustenta que, em muitas instâncias, avançamos ainda mais na política de substituições de menor esforço e deixamos que nossas emoções assumam as rédeas. A pergunta "o que você pensa de X?" é difícil. Nem sempre temos uma opinião embasada sobre X. Assim, nossos cérebros pegam um atalho e, sem se dar conta, respondem dizendo como nos sentimos em relação a X. Basicamente, nós lidamos com as complexidades do mundo fingindo que elas não existem. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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