Rogério Gentile

Blitze com hora marcada

SÃO PAULO - Geraldo Alckmin inovou em termos de segurança pública. O governador estabeleceu os dias em que não poderá ocorrer arrastões em restaurantes de São Paulo. São as datas especiais -Dia dos Namorados, Dia dos Pais, das Mães etc.-, quando haverá grande reforço no policiamento. Já nos demais...

Incomodado com a repercussão do assunto, Alckmin reuniu-se com a cúpula da polícia e fez o que os especialistas em marketing chamam de "resposta política". Falou firme, prometeu equacionar o problema, mas, de concreto mesmo, anunciou pouca coisa. E ainda deu um presente para a bandidagem ao revelar os dias em que haverá mais policiais nas ruas.

Os arrastões causam muito barulho, mas, a bem da verdade, são numericamente inexpressivos. É muito maior o risco de alguém ter o carro roubado no caminho de um jantar do que perder a carteira num restaurante. Neste ano, houve 21 arrastões na cidade. Por dia, em média, 128 veículos são roubados em São Paulo.

Mas é evidente que isso não torna o assunto menos relevante. Sensação de segurança é um dos fatores fundamentais para a qualidade de vida. E as pessoas estão com medo, sentindo-se vulneráveis em estabelecimentos onde a busca é por prazer e confraternização. Segundo a associação do setor, por conta dos arrastões, o movimento nos restaurantes já caiu cerca de 20%.

O mesmo raciocínio vale para os arrastões em prédios. Dos cerca de 30 mil condomínios da cidade, entre residenciais e comerciais, 14 sofreram assaltos em 2012. Mas como pode ser boa a vida num lugar quando nem mesmo na própria casa o cidadão consegue se sentir seguro?

Num desses arrastões, uma idosa com Alzheimer apanhou porque não entendia o que estava acontecendo. E uma arma foi apontada para um bebê que não parava de chorar.

Alckmin e a polícia paulista precisam dar uma resposta. Blitze com hora marcada e anúncio prévio com certeza não vão resolver o problema.