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Arrastão de inteligência

Numa cidade em que acontecem quase 10 mil roubos num mês, como em abril, a ocorrência de 21 arrastões em bares e restaurantes e pelo menos outros 14 em prédios, no período de cinco meses, não chega a representar uma prioridade para a segurança pública.

Nem por isso se admite que a polícia cruze os braços diante desses crimes. A facilidade e a reincidência dos assaltos, 38% deles a menos de 500 metros de unidades policiais, contribuem para disseminar uma sensação de insegurança.

As primeiras reações das autoridades policiais, nesse sentido, foram particularmente desastradas. Algumas se entregaram a discutir uma bizantina questão semântica sobre o que seria um "arrastão" (só o nome seria novo, não a prática). Outras anunciaram o óbvio, vale dizer, um aumento do efetivo das patrulhas nas áreas mais afetadas -mas em datas festivas, como Dia dos Namorados e Dia das Mães, em que o movimento é maior.

No caso dos bares e restaurantes, não é a quantidade de fregueses que atrai os criminosos. Ao contrário, os arrastões tendem a ocorrer tarde da noite, quando os clientes são menos numerosos e configuram, presume-se, uma situação mais fácil de controlar. A correlação do aparato policial com o movimento equivalerá a jogar para a torcida, não para ganhar o jogo.

A fim de vencer a partida contra o crime, a polícia precisa empregar inteligência e disciplina. Inteligência para investigar, reunir informações sobre o adversário e traçar um plano de ataque; disciplina para pôr em prática o plano com competência e dedicação diuturna, algo que não se confunde com exibição de carros de polícia após casos de grande repercussão.

A detenção de suspeitos, como os dois identificados ontem, sem dúvida vai na direção correta e contribui para diminuir a ansiedade do público. Tal efeito, no entanto, se dissipa rapidamente sempre que a polícia se mostra incapaz de provar a participação dos detidos e de desarticular as quadrilhas.

Por fim, mesmo não sendo uma panaceia para combater o crime, a organização de cidadãos complementaria bem o trabalho da polícia. Associações de bares e restaurantes, sociedades de bairros, condomínios e seus administradores devem reforçar sistemas próprios de vigilância para identificar ameaças e acionar o poder público -jamais substituí-lo.

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