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Marcelo Coutinho

TENDÊNCIAS/DEBATES

Mundo congelado para o aquecimento global

Um stand-by global: os países estão na defensiva, esperando. Rodadas comerciais paradas, veto sino-russo no Conselho de Segurança. Pior para a Rio+20

Na Rio+20, os países demonstram que são incapazes de gerar ações globais contra o aquecimento. Emergentes e desenvolvidos não oferecem respostas políticas satisfatórias.

EUA e China trocaram a ONU pelos laboratórios. Os dois maiores poluentes apostam tudo na ciência e na revolução energética pela indústria, lançando os combustíveis fósseis à idade da pedra. Alemanha e Reino Unido vão pelo mesmo caminho.

Já o Brasil não sabe que rumo tomar. O mundo tampouco sabe o que quer de nós. Aguardam que multipliquemos nossa produção de alimentos nos próximos anos, impedindo uma catástrofe humanitária. Ao mesmo tempo, esperam que não avancemos sobre florestas e rios.

Não explicam como conseguiremos contornar, simultaneamente, mudanças climáticas e a fome no mundo. Celeiro ou parque de preservação? Vocações difíceis de conviver.

A corrida pelas fontes renováveis se tornou a disputa pelo sistema internacional. Quem dominar a nova indústria será a maior potência do século. A China, que mais investe no setor, é uma liderança oblíqua. Um governo autoritário que viola os direitos humanos pode ser um membro responsável da comunidade mundial? O caso sírio diz que não.

É impossível saber quais serão as intenções da China ou mesmo dos EUA em alguns anos. O medo e o egoísmo podem não ser bons conselheiros, mas em política internacional costumam prevalecer.

Os países seguem comprando muitas armas. Os EUA concentram forças militares justamente na Ásia. Não se adquire armas assim por esporte. De alguma forma, querem se precaver. Com uma mão, cumprimentam com afeto. Com a outra, abrem o coldre.

Pequim percebe a governança global não como o lugar dos indivíduos e grupos sociais numa modernidade avançada, mas como meio de construir uma sociedade internacional ainda baseada nos Estados, com ditaduras e democracias em paz fria.

Emergentes não sabem responder aos desafios crescentes na área de direitos humanos. São conservadores. Ficam na defensiva, entorpecidos diante de massacres, apenas preocupados em conter as intervenções das democracias desenvolvidas.

Esperamos algo acontecer. Um stand-by global. Rodadas comerciais estão paralisadas. O veto sino-russo amarra o Conselho de Segurança.

O maior assunto do momento é o aquecimento. Pena ele encontrar um mundo tão congelado.

MARCELO COUTINHO, 37, é professor de relações internacionais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro)

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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