Índice geral Opinião
Opinião
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Editoriais

editoriais@uol.com.br

O drama de Merkel

Chanceler alemã chega à cúpula da UE sob pressão para aceitar medidas de socorro a bancos e governos que seu eleitorado recusa

Os mesmos dilemas e impasses que impedem a solução da crise europeia desde seu início, em 2009, podem transformar outra vez em impasse a reunião de cúpula da União Europeia que se inicia hoje.

Os líderes se encontram para, supostamente, tomar decisões que possam encerrar o ciclo de tumultos financeiros que a todo momento submetem a risco de falência os bancos e governos da região.

Desta vez, o fracasso tende a ter consequências mais graves. Estão sob ameaça países da importância política e com economias tão grandes quanto Espanha e Itália.

O impasse fundamental é conhecido. De um lado, no partido da austeridade, estão Alemanha e aliados menores, como Holanda e Finlândia. Do outro, França e os países endividados do sul.

Os alemães recusam até agora a adoção de medidas de emergência. Por exemplo, recorrer ao fundo europeu de socorro financeiro para comprar títulos da dívida de governos que enfrentam dificuldades para se financiar no mercado.

Com tal medida, na prática um fundo transnacional lastreado na Alemanha como grande fiador passaria a ser credor de governos como os da Espanha ou da Itália. Isso reduziria seus custos de financiamento, dada a solidez alemã.

Outro paliativo importante seria o uso dos recursos do fundo no socorro direto a bancos. Providência ainda mais extrema seria permitir que o Banco Central Europeu assumisse sem restrições o papel de emprestador de última instância.

O BCE garantiria governos e instituições financeiras à larga, tal como fez o Fed -banco central dos EUA- em 2008 e 2009. A gigantesca emissão de moeda estancou a crise financeira naquele país.

As linhas gerais do acordo que deve ser discutido na cúpula preveem que o socorro ampliado ocorra apenas se e quando houver instituições federativas responsáveis por administrá-las.

Em outras palavras, a condição estipulada pela Alemanha é avançar na direção de uma união econômica, fiscal e bancária europeia, em que os países submeteriam formalmente orçamentos, assim como o controle de tetos para endividamento e deficit, à supervisão de uma entidade supranacional.

Em suma, os alemães não desejam assumir o risco financeiro de uma união fiscal e bancária sem receber garantias de que os parceiros ajustarão seus balanços e promoverão reformas para desregulamentar seus mercados.

No longo prazo, é o caminho sensato para uma federação com contas públicas sólidas. Mas talvez não haja tempo para tais desenvolvimentos institucionais -remédios para evitar o infarto bancário espanhol ou a queda do governo tecnocrático italiano podem provar-se mais urgentes.

O colapso pode ser evitado com remendos menores, decerto, como tem sido o caso desde 2009. A Alemanha sempre acaba por ceder, pois o fim do euro pode sair mais caro que socorrer a periferia.

A hesitação motivada pela resistência do eleitorado germânico, contudo, só prolonga a agonia europeia, sujeita a eurozona a risco de acidentes graves e pode fomentar o extremismo político.

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.