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Pedro Barros, Luiz Pinto e Felippe Ramos

O assunto é geopolítica latino-americana

Bem-vinda ao Mercosul, Venezuela

No bloco, a Venezuela rompe a díade entre Brasil e Argentina. Chile, Bolívia, Paraguai e Peru juntos não têm seu PIB. Ela é uma grande parceira comercial

O caso do golpe ocorrido no último dia 22 no Paraguai, que destituiu o presidente Fernando Lugo, gerou uma resposta uníssona dos chefes de Estado do Mercosul em condenação à ruptura da ordem democrática no país vizinho -posição amparada pelo Protocolo de Ushuaia II, que prevê a cláusula democrática para permanência no bloco.

A suspensão do Paraguai do bloco permitiu a adesão da Venezuela como membro pleno do Mercosul, que vinha sendo postergada pela maioria oposicionista do Congresso paraguaio há três anos. O ingresso da Venezuela é um grande avanço para a integração sul-americana.

A decisão dos presidentes tem impacto político forte, uma vez que serve para pressionar o governo de facto do Paraguai sem recorrer a sanções econômicas que acabam por penalizar a população. Simultaneamente, resolve-se o impasse da adesão de um novo membro.

A nova adesão amplia geopoliticamente o Mercosul em direção ao norte da América do Sul, superando a fase "Cone Sul" do bloco.

Com a entrada da Venezuela, os Estados amazônicos passam, de fato, a ser parte do Mercosul. É um novo fôlego é vislumbrado.

A importância econômica da Venezuela pode equilibrar a díade entre Brasil e Argentina no bloco. Com o 24º PIB do mundo, de US$ 389 bilhões, segundo o relatório de 2010 do Banco Mundial, a economia da Venezuela é maior do que as do Chile (43°), do Peru (50º), da Bolívia (101°) e do Paraguai (103°) juntos. Nessa lista, o Brasil aparece em 7°. A Argentina, em 27°.

A Venezuela apresenta ainda as maiores reservas certificadas de petróleo do mundo, com a faixa do Orinoco, que permitirá nos próximos anos um desenvolvimento acelerado. O Brasil e os demais membros do Mercosul podem cooperar.

Para o Brasil especificamente, a entrada da Venezuela potencializa o processo de aprofundamento das relações econômicas: em 2003, o comércio entre os dois países era de US$ 880 milhões, ampliando-se para US$ 5,9 bilhões em 2011 -uma ampliação de cerca de sete vezes.

Nos cinco primeiros meses deste ano, as exportações do Brasil para a Venezuela cresceram 40,6% em relação ao mesmo período do ano passado. A Venezuela é hoje o terceiro superávit comercial do Brasil, oscilando entre os três maiores sócios comercias do país desde 2007.

Para além das vantagens e oportunidades econômicas, a presença da Venezuela no bloco apresenta claro sentido estratégico.

A integração do Brasil com os países vizinhos segue ritmo menor do que a entrada massiva da China e outras potências extrarregionais no continente. Essa nova presença ameaça diminuir o comércio intraregional de produtos com mais valor agregado. Para uma política de competição com a China, é preciso ampliar a integração do Mercosul.

A entrada da Venezuela pode abrir caminho a alguns países andinos, amazônicos e caribenhos para ingressar no bloco. O Mercosul pode, então, caminhar para um salto qualitativo em duas dimensões:

1) Ampliação do número de membros, para além da Venezuela;

2) E o impulso à reforma da agenda do bloco em direção à superação definitiva da fase comercialista para a integração produtiva.

Conforme recordava Celso Furtado, a crise pode acelerar a história.

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