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Barbárie síria

É preciso redobrar pressões e impor sanções econômicas severas para forçar o ditador da Síria, Bashar Assad, a aceitar o plano da ONU

Já não restavam dúvidas sobre a natureza do conflito armado entre as forças rebeldes e o regime do ditador Bashar Assad quando o Comitê Internacional da Cruz Vermelha declarou, no domingo, que a Síria vive uma guerra civil. Segundo a ONU, mais de 10 mil pessoas já morreram nos confrontos.

De enfrentamentos localizados em algumas cidades do país, que se iniciaram há mais de um ano, os choques entre opositores e forças do governo alcançam agora a região central da capital, Damasco.

O regime de Assad sofreu perdas significativas nas últimas semanas, com as deserções de um general de brigada e do embaixador do país no Iraque.

Nada indica, contudo, que a escalada do conflito e os novos apoios conquistados pela oposição possam propiciar um rápido desenlace da guerra civil.

O plano apresentado em março por Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, tem o mérito de se basear na negociação e no respeito à soberania síria, mas, infelizmente, não funcionou até aqui.

Além do cessar-fogo imediato e do envio de observadores da ONU, a proposta prevê cooperação para atender às demandas da população, assistência humanitária, libertação de prisioneiros políticos, livre circulação de jornalistas e respeito a protestos pacíficos.

O regime de Assad fez jogo duplo: ao mesmo tempo em que dizia concordar com o plano, mantinha o uso de artilharia de guerra contra a população civil.

Em maio, mais de uma centena de pessoas, a maioria mulheres e crianças, foram mortas num único dia na cidade de Houla. Na semana passada, forças do governo usaram armas pesadas e helicópteros num ataque à aldeia de Tremseh. Opositores dizem que mais de 200 pessoas morreram no massacre.

Apesar da indignação internacional com a escalada de horrores, não há solução fácil para o conflito. Uma intervenção militar liderada pelos EUA está fora de questão por razões pragmáticas. A Síria faz fronteira com Israel e tem no Irã um aliado, o que lhe confere potencial incomum para desestabilizar toda a região.

A imposição de sanções por meio de nova resolução do Conselho de Segurança da ONU, a ser votada hoje, enfrenta resistências da Rússia, tradicional aliada da Síria.

O encontro entre Kofi Annan e o presidente russo, Vladimir Putin, realizado ontem, terminou com promessas de apoio ao plano de paz. Cabe à comunidade internacional redobrar as pressões para que o compromisso se efetive.

O mesmo aplica-se à diplomacia brasileira, que subiu o tom retórico ao condenar a violência do regime sírio, mas se mantém relutante em apoiar sanções econômicas severas -ainda o melhor caminho para enfrentar a barbárie oficial promovida por Assad.

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