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Vicente Amato Neto e Renato de Ávila Kfouri

Vacinas necessárias

O elogiado Programa Nacional de Imunizações ganharia com vacinas contra catapora e HPV e com a busca por imunizantes contra as doenças esquecidas

Há muito é conhecido o poder das vacinas. Quando elas se tornam política pública, reduzem a mortalidade infantil, eliminam doenças e reduzem custos no setor de saúde.

Foi através de amplos programas de imunização que se eliminou a varíola do planeta e que obtivemos o controle de várias outras doenças.

Mas duas inquietudes ainda precisam ser resolvidas: o acesso de todos e o desenvolvimento de vacinas contra doenças negligenciadas -ou, como dizem, "doenças órfãs".

O acesso obedece à lógica do capitalismo, em que a indústria farmacêutica, que investe no desenvolvimento de novas moléculas e vacinas, recebe o retorno de seus grandes investimentos após o licenciamento desses produtos, aprovados após rigorosos exames feitos pelas agências regulatórias.

Fica evidente que são os países mais ricos, possivelmente os que menos necessitam, que se beneficiam com a inclusão de novos imunizantes em seus programas públicos.

No Brasil, nosso elogiado e copiado Programa Nacional de Imunizações (PNI) tem sido exitoso não somente pelo número de vacinas contempladas, mas principalmente pelas altas coberturas vacinais atingidas, quase imbatíveis quando comparadas às de outros países.

Contudo, lembramos que existem medidas cogitáveis, como a inclusão das vacinas contra:

- A varicela, ou catapora, muitas vezes tida como benigna, mas podendo não raramente apresentar complicações;

- O vírus do papiloma humano (HPV), importante agente sexualmente transmissível capaz de causar verrugas e câncer em homens ou mulheres;

- Hepatite A, que representa importante agravo à saúde.

Essas vacinas citadas são hoje administradas somente em serviços privados de imunização.

Outros avanços ainda esperados são: ampliar o emprego da anti-hepatite B para todas as idades, expandir a utilização da vacina contra a meningite entre os adolescentes, contar com a prevenção da coqueluche em adultos, além de disponibilizarmos as protetoras de pneumonias de maneira mais efetiva para os idosos.

A propósito de males esquecidos, precisamos investir no desenvolvimento de imunizantes contra a dengue, a malária, a tuberculose, a AIDS e a hepatite C.

Convém conhecer quem estará à frente dos processos de pesquisas e desenvolvimento dessas novas vacinas. Os laboratórios públicos não conseguem competir com o investimento da indústria farmacêutica privada. As exigências, acertadamente cada vez mais severas para licenciar novos produtos, demandam estudos dispendiosos e com um enorme número de envolvidos.

Por isso, ficamos reféns de interesses no âmbito da produção de imunobiológicos, e assim ocorrem menos benefícios em países pobres.

Algumas iniciativas como a GAVI (Aliança Global de Apoio às Imunizações) e os altos investimentos em imunização da Fundação Bill e Melinda Gates, fervorosos apoiadores dos progressos em imunizações, talvez não sejam suficientes para reduzir o grande abismo que há entre as nações. Entretanto, certamente são diligências como essas que estabelecerão o tamanho da diferença.

É hora de pensarmos em promoção de saúde através da prevenção, e não somente o intento de curar pessoas alcançadas por distúrbios indesejados. Agir assim requer esforços e investimentos muito maiores, sempre recordando que aliviar o sofrimento humano não tem preço.

VICENTE AMATO NETO, 84, médico, é secretário da Comissão Permanente de Assessoramento em Imunizações da Secretaria de Saúde de SP. Presidiu a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)
RENATO DE ÁVILA KFOURI, 47, médico, é presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)

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