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Ney Figueiredo

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Breve história recente das eleições paulistanas

Primeiro era o petismo contra o malufismo. Este chegou ao fim, cresceu o PSDB. Mas agora, com Haddad desconhecido e Serra com rejeição, tudo fica nebuloso

A pesquisa Datafolha sobre a eleição para prefeitura de São Paulo revela um cenário imprevisível.

Se somarmos, contudo, a riqueza dos dados publicados com os resultados de eleições passadas nesta capital, podemos chegar a algumas conclusões interessantes.

A primeira metade dos últimos 24 anos de eleições na capital paulista exibiu um quadro de intensa disputa entre petistas e malufistas. Isso começou em 1988, com Paulo Maluf contra Luiza Erundina, que levou a melhor. O representante tucano, José Serra, ficou em terceiro lugar, com 6,9% dos votos.

Em 1992, Maluf deu o troco, vencendo Eduardo Suplicy (PT), ficando o tucano Fabio Feldman em terceiro. Maluf manteve a prefeitura nas mãos, elegendo em 1996 o então desconhecido Celso Pitta, seu ex-secretário da Fazenda, que derrotou Luiz Erundina (PT). Serra, de novo candidato, ficou em terceiro.

O PT só voltaria à prefeitura em 2000, com a vitória de Marta Suplicy sobre Paulo Maluf.

Em 2004, o ciclo de polarização entre malufismo e petismo foi rompido após uma série de denúncias de corrupção, desvio de dinheiro público, superfaturamento de obras e remessa de importâncias fabulosas para paraísos fiscais. Teve fim melancólico o "rouba mas faz".

O eixo da disputa mudou para tucanos e petistas, tendo Serra derrotado Marta, candidata à reeleição.

Neste momento, acabaram os discursos de esquerda e de direita, a pregação ideológica foi abandonada. Em seu lugar, entra um discurso pragmático. Eram feitas pesquisas de opinião com eleitores para detectar quais eram seus supostos anseios. As campanhas, a partir disso, tratavam de saúde, educação, transporte, segurança...

O esquema político de Serra voltou a vencer Marta em 2008, lançando o seu vice, Gilberto Kassab, como candidato a prefeito -Serra havia sido eleitor governador do Estado.

Em 2004, Serra procurou se apresentar como um político experiente, excelente ministro da Saúde. No pleito de 2012, ficou sem discurso e com muita coisa a explicar. Renunciou duas vezes a mandatos que lhe foram conferidos pelo povo: na prefeitura e no governo do Estado.

Ele carrega o ônus de ter a maior rejeição e de ser o candidato do prefeito com a pior avaliação nas principais capitais, segundo o Datafolha.

Fernando Haddad, além de desconhecido, não está podendo contar com a presença do seu padrinho e principal "cabo leitoral", Lula, que antes de ficar doente impôs o seu nome ao partido em detrimento da candidata natural, Marta Suplicy, que até o momento se recusa a participar da sua campanha.

Pelos Datafolha, Russomano é quem está ameaçando, no momento, a polarização tucanos e petistas, que dominou as disputas paulistanas nos últimos 12 anos.

Todavia, o seu tempo no palanque eletrônico será exíguo para enfrentar a montanha de minutos das coligações de seus principais adversários. E ele não poderá contar mais com o seu programa na TV.

Sem serem estimulados pelos nomes dos candidatos, 61% dos entrevistados ainda não definiram seu voto. Isso quer dizer que os principais lances do jogo serão disputados no horário eleitoral gratuito, nas entrevistas e debates. Curiosamente, a esta altura ainda tudo pode acontecer.

Questionado, após a divulgação da pesquisa, se a polarização entre o PT e o PSDB ainda era o caminho mais provável, Serra declarou: "Eu não sei. Quem diria há três ou quatro meses atrás que a pesquisa estaria assim? É meio surpreendente".

Pois é.

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