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Estertores da CPI

Decisão de interromper investigação sobre o caso Cachoeira durante 1º turno das eleições é novo golpe na credibilidade do Legislativo

Após terem esvaziado os trabalhos da CPI criada para investigar as relações de políticos com Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, os parlamentares decidiram adotar medida mais drástica: interromperam as investigações e só vão retomá-las quando não houver tempo para mais nada.

Com o argumento de que a suspensão busca evitar contágio eleitoral, o comando da comissão parlamentar achou por bem retomar as atividades somente depois do primeiro turno das eleições.

Trata-se, é claro, de um subterfúgio. Quando os legisladores reiniciarem as reuniões da CPI, em 9 de outubro, restará menos de um mês para a conclusão dos trabalhos, que estarão praticamente inviabilizados. Basta observar, por exemplo, que o intervalo entre um pedido de quebra de sigilo e a chegada dos dados é de 30 dias.

Essa renúncia ao dever de investigar não chega a ser um final surpreendente para uma CPI que nasceu anômala. Em geral, comissões de inquérito são um instrumento da minoria para examinar temas incômodos para a maioria.

Nesse caso, a lógica se inverteu. A CPI veio à luz sob inspiração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que viu nas nebulosas relações entre Cachoeira e políticos da oposição uma chance de fustigar seus adversários às vésperas do julgamento do mensalão.

Os planos, porém, funcionavam melhor nas elucubrações do ex-mandatário do que na realidade. Os tentáculos da organização comandada por Cachoeira eram mais longos do que imaginava Lula.

Não estavam comprometidos apenas o ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM) e o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Um inquérito minimamente sério criaria dificuldades também para o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e vários aliados do Planalto, em particular gestores que mantinham contratos com a construtora Delta.

A maneira encontrada pelos parlamentares para afastar problemas foi fingir que trabalhavam, tomando todos os cuidados para evitar uma investigação de verdade -que incomodaria indistintamente democratas, tucanos, petistas e peemedebistas.

Forjaram-se, assim, acordos para limitar o escopo das convocações e quebras de sigilo. A desfaçatez foi tamanha que uma peça central no escândalo -a Delta- nem sequer teve suas contas abertas.

Ao final, a grande vítima da CPI do caso Cachoeira acabou sendo a já reduzida credibilidade do Poder Legislativo.

Nesse contexto, a decisão de abreviar a agonia da comissão está longe de ser a pior que os parlamentares tomaram.

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