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Ruy Castro

Pau em inglês

RIO DE JANEIRO - Artigo recente no "New York Times", com dicas para americanos a fim de vir ao Brasil, observou: "Os brasileiros são muito simpáticos, mas falam um inglês atroz". Levantamento também recente do British Council, instituição dedicada a estreitar os laços do Reino Unido com outros países, constatou que apenas 5% da população brasileira sabe falar inglês. E, outro dia, pilotos da nossa aviação civil foram acusados de não se fazer entender em voos internacionais.

Você dirá que está na hora de o Brasil cantar de galo e exigir que nossos visitantes aprendam um pouco de português. Boa ideia, mas, antes, será preciso combinar com o resto do mundo. E, neste momento, não apenas os galos ainda cacarejam em inglês, mas até os povos mais refratários a outras línguas, como os franceses, tiveram de aderir ao raudiudu no trato com estrangeiros. E, como eles, todos os europeus, incluindo 100% dos alemães e a maioria dos povos da antiga esfera soviética.

A revelação de que somos deficientes numa matéria que, nesses tempos de comunicação instantânea, tornou-se fundamental é mais surpreendente quando se olha em torno -na propaganda, nas fachadas das lojas e até nos jornais e revistas. É como se, no Brasil, o inglês fosse a língua oficial.

Gatos e cachorros não são mais gatos e cachorros. São pets. Bicicletas tornaram-se bikes. Adolescentes são teens. Corretores (imobiliários ou o que for) são brokers. Visto assim, pode-se pensar que o uso de palavras em inglês para substituir suas primas da roça obedece a um domínio da língua. Mas é só esmalte. Falamos e escrevemos sem saber, e a prova é a de que, aqui, o plural de qualquer termo em inglês leva um apóstrofo -CD's, DVD's, hot dog's- incompreensível para ingleses e americanos.

Se o Brasil quiser passar de ano, é bom começar a estudar.

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