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Mario Cesar Carvalho

Cidade sem pólos

As eleições de domingo estão prestes a colocar em xeque um dos mitos mais persistentes sobre a política em São Paulo nas últimas duas décadas: o de que a cidade seria mais organizada do que as outras do Brasil, de que impera aqui uma polaridade similar à da Europa, com PT e PSDB se alternando no poder, como fazem conservadores e trabalhistas em Londres. Essa noção, difundida por cientistas políticos, está com a validade vencida.

São Paulo é muito mais parecida com o Brasil do que imaginam os cientistas políticos -eis a minha aposta.

Por mais que o candidato Celso Russomanno (PRB) derreta nas intenções de voto (perdeu dez pontos em duas semanas, segundo o Datafolha), sua candidatura parece ter acabado com a noção de polaridade política. Os dois principais partidos que sustentam sua candidatura, o PRB e o PTB, são nanicos quando comparados ao PT e ao PSDB. A principal força por trás de Russomanno é uma igreja, a Universal. A importância que a questão religiosa adquiriu na eleição é a prova de que há mais forças do que as políticas por trás de uma candidatura em São Paulo.

Não é só Russomanno que desafia essa noção de uma cidade mais organizada politicamente. O crescimento de última hora de Gabriel Chalita (PMDB) é outra evidência de que a polaridade PT-PSDB pode virar poeira na cidade.

O PT sempre teve dois reinos cativos na cidade, as zonas leste e sul, justamente as mais pobres. Foi num desses reinos do PT, a zona leste, a mais populosa da metrópole, que as intenções de voto em Chalita dobraram nos últimos dias, de 8 para 16 pontos, ainda segundo o Datafolha.

A volatilidade nas intenções de voto é o terceiro prego no caixão do suposto bipartidarismo de São Paulo. Russomanno já teve 35% das intenções de voto e caiu para 25%. José Serra (PSDB) já foi de 30% (em junho) para 23% (nesta semana). Fernando Haddad (PT) mal roça o piso histórico do PT, de 20%, com Lula e Dilma na campanha.

São Paulo foi o berço do PT e do PSDB, mas não é mais o espelho de uma polaridade que já tem 20 anos no cenário nacional.

Não há uma explicação fácil para esse fenômeno. O mais óbvio é que eleições municipais não têm nada de ideológico. O eleitor quer um síndico. Impera o pragmatismo.

A pesquisa DNA Paulistano, da Folha, revelou que a maior preocupação dos paulistanos são os buracos de rua.

A preocupação aparentemente comezinha com os buracos de rua ajuda a entender por que a polaridade PT-PSDB pode ser sepultada na cidade. Ninguém pensa em Lênin na hora de escolher o síndico. Talvez pense no pastor.

MARIO CESAR CARVALHO é repórter especial da Folha

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