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Juros e correção

Se voltar a cortar a taxa básica Selic hoje, comitê do BC reforçará percepção de que trajetória de crescimento ainda enfrenta obstáculos

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decide hoje se mantém a taxa básica de juros em 7,5% ou se dá continuidade ao ciclo de cortes, que já totalizam cinco pontos percentuais desde agosto do ano passado.

Até pouco tempo atrás, a expectativa dominante era de interrupção das reduções. No relatório de inflação do fim de setembro, o BC indicava contar com cenário animador de crescimento em 2013, da ordem de 4%, o que tornaria desnecessários novos estímulos.

No entanto vem ganhando força a expectativa de que os cortes continuem -ainda que no ritmo de "máxima parcimônia", isto é, um quarto de ponto percentual por reunião, e não mais meio ponto.

O cenário externo permanece como principal inibidor de otimismo. O crescimento do PIB global no segundo trimestre, estimado em 1,7%, é o mais baixo desde a crise de 2008 e reflete a persistência de obstáculos estruturais.

No Brasil, o crescimento de 1,5% na indústria, na comparação de agosto com julho, confirmou prognósticos de recuperação no segundo semestre. Mas a principal razão para maior atividade nas fábricas, no momento, parece ser a necessidade de recompor estoques, em especial no setor de veículos.

Vetores de crescimento de mais longo prazo, como crédito e investimento, permanecem estagnados. A despeito dos esforços do governo para reduzir o custo do crédito, parece haver mais falta de demanda que obstáculos do lado da oferta.

Após quase uma década de expansão acelerada da economia, o endividamento do consumidor se aproxima de padrões globais. Dificilmente retomará o ritmo de crescimento do passado recente.

Do lado do investimento, as últimas desonerações tributárias e o pacote de concessões ao setor privado para reforma da infraestrutura autorizam alguma expectativa de que o empresariado, ao final, responderá à altura. Por ora, há poucos sinais disso.

Parece seguro prever que 2013 será melhor do que 2012, mas as preocupações do BC quanto à persistência de certa letargia fazem sentido. Tudo indica que se consolida, aqui como em outros países, um período longo de juros baixos.

A ameaça, esta sim uma particularidade bem brasileira, continua sendo a inflação. Mesmo com crescimento do PIB próximo de 1,5%, a inflação ficará próxima a 5,5% neste ano, muito acima do centro da meta (4,5%).

É certo que a alta nos preços de alimentos, ocasionada sobretudo pela seca nos Estados Unidos, piorou momentaneamente os índices. Mas o BC prevê que tão cedo a inflação não cairá abaixo de 5%.

Se a economia seguir uma trajetória de crescimento robusta e este alcançar 4% em 2013, o governo da presidente Dilma Rousseff terá de dar duro para evitar que o gênio inflacionário volte a sair da garrafa.

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