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Carlos Heitor Cony

Pelas barbas de Lula

RIO DE JANEIRO - No tempo de Cícero, os romanos, quando imprecavam a seus deuses, não faziam por menos: invocavam Júpiter. Na famosa defesa "Pro Milone", o grande orador, volta e meia, clamava: "Por Júpiter!".

Os árabes, sem a tradição helênica do Parnaso, invocavam as barbas do profeta ou, mais explicitamente, as barbas de Maomé.

Os cubanos não chegaram a tanto, tiveram seus problemas e nunca juraram palas barbas de Fidel. Quanto a nós, brasileiros, temos alguns barbudos, mas nenhum deles é espetacular -o mais notório seria Leonardo Boff, cujas barbas impõem certo respeito.

Durante anos e anos, nós nos habituamos com as barbas de Lula, que no início eram agressivas, quase ameaçadoras, assustavam a burguesia e a classe média, provocava a polícia. Com o tempo, e a cancha adquirida por aí, ele amenizou suas barbas e com elas encantou o mundo, apesar de alguns foras que, volta e meia, costuma dar.

Eis que num acidente de percurso (simplesmente isso, acidente de percurso, que logo será superado), ele aparece sem barba e sem cabelo. Como não é ingrato, manteve o bigode. Ficou bem mais jovem, bonito e, sobretudo, com uma cara mais do que saudável. É lugar pacífico na medicina que certas doenças, as mais graves por sinal, são produtos da cabeça, da chamada "cuca". Os olhos afundam, as bochechas caem, o riso desaparece ou fica amarelo.

Pois a cara de Lula é a maior prova de que ele vai tirar de letra o seu problema atual. Nos tempos da barba, ele parecia cansado, esbaforido, chegava às vezes a parecer sinistro. Agora não. É um rosto de quase adolescente, doce, uma garantia de que, apesar de tudo, está de bem com a vida.

Que continue assim. Quando as barbas voltarem, voltarei a falar mal dele.

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