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ELIANE CANTANHÊDE
Facada nas costas
BRASÍLIA - Bem que Lula poderia ter
nos poupado, na última entrevista do
ano, ao Fantástico, da TV Globo, do
mesmo blablablá de que tudo o que
aconteceu no seu partido, no seu governo e com seus principais auxiliares foi uma "facada nas costas".
Nas costas de quem, presidente? De
quem comandou o PT durante décadas, é o principal responsável pelo governo e era chefe de José Dirceu? Ou
nas dos 53,4 milhões de eleitores que
votaram no senhor e no PT?
Ambos, presidente e partido, devem
deixar na cabeceira a pesquisa Datafolha publicada pela Folha em 26/12,
mostrando que o PT perdeu um terço
de seu eleitorado em um ano, o ano
de Marcos Valério. Em dezembro de
2004, 24% dos eleitores apoiavam o
partido. Em 2005, 16%.
A pesquisa, porém, não é motivo
para PMDB, PSDB e PFL estourarem
champanhe. Eles continuam, respectivamente, com 8%, 5% e 4%. Os
eleitores caem fora do PT, mas não
caem dentro dos demais partidos.
Nem mesmo do PSDB, apesar de 9
entre 10 experts preverem uma polarização entre PT e PSDB em 2006.
Ou seja: os eleitores estão trocando
o PT por... nada. Os cidadãos comuns estão irritados com o governo
Lula e confirmam a desmistificação
do PT, mas nem por isso há uma onda pró-tucanos, nem mesmo pró-Serra, o principal nome nas pesquisas
contra Lula. O fato mais marcante é
um desencanto com a política em geral. A garotada só fala em voto nulo.
Petistas e tucanos continuam se
matando -nas CPIs, nos plenários,
na votação do Orçamento, na disputa por um salário a mais no recesso.
Não percebem que o recado das pesquisas (que tende a ser o das urnas) é
que 2005 não foi só o ano do fim do
mito PT, foi o da grande desilusão.
Encerrou-se um ciclo, acabaram-se
os sonhos. Ninguém sabe qual a nova
etapa nem como será o país menos
sonhador e mais realista.
Não, Lula, a facada não foi nas
suas costas, foi na esperança de toda
uma nação. A política nacional começa 2006 sangrando.
@ - elianec@uol.com.br
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