São Paulo, domingo, 01 de janeiro de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

Facada nas costas

BRASÍLIA - Bem que Lula poderia ter nos poupado, na última entrevista do ano, ao Fantástico, da TV Globo, do mesmo blablablá de que tudo o que aconteceu no seu partido, no seu governo e com seus principais auxiliares foi uma "facada nas costas".
Nas costas de quem, presidente? De quem comandou o PT durante décadas, é o principal responsável pelo governo e era chefe de José Dirceu? Ou nas dos 53,4 milhões de eleitores que votaram no senhor e no PT?
Ambos, presidente e partido, devem deixar na cabeceira a pesquisa Datafolha publicada pela Folha em 26/12, mostrando que o PT perdeu um terço de seu eleitorado em um ano, o ano de Marcos Valério. Em dezembro de 2004, 24% dos eleitores apoiavam o partido. Em 2005, 16%.
A pesquisa, porém, não é motivo para PMDB, PSDB e PFL estourarem champanhe. Eles continuam, respectivamente, com 8%, 5% e 4%. Os eleitores caem fora do PT, mas não caem dentro dos demais partidos. Nem mesmo do PSDB, apesar de 9 entre 10 experts preverem uma polarização entre PT e PSDB em 2006.
Ou seja: os eleitores estão trocando o PT por... nada. Os cidadãos comuns estão irritados com o governo Lula e confirmam a desmistificação do PT, mas nem por isso há uma onda pró-tucanos, nem mesmo pró-Serra, o principal nome nas pesquisas contra Lula. O fato mais marcante é um desencanto com a política em geral. A garotada só fala em voto nulo.
Petistas e tucanos continuam se matando -nas CPIs, nos plenários, na votação do Orçamento, na disputa por um salário a mais no recesso. Não percebem que o recado das pesquisas (que tende a ser o das urnas) é que 2005 não foi só o ano do fim do mito PT, foi o da grande desilusão. Encerrou-se um ciclo, acabaram-se os sonhos. Ninguém sabe qual a nova etapa nem como será o país menos sonhador e mais realista.
Não, Lula, a facada não foi nas suas costas, foi na esperança de toda uma nação. A política nacional começa 2006 sangrando.


@ - elianec@uol.com.br


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