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TENDÊNCIAS/DEBATES
Perspectivas para 2008
DOM DIMAS LARA BARBOSA
A CNBB cumprirá seu papel de subsidiar a reflexão
dos eleitores católicos e incrementar a campanha pela ética na política
EM 2007 A CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil)
cumpriu denso programa de
ação, distribuído em 16 comissões de
trabalho e dezenas de organizações.
Além do serviço religioso a milhares
de comunidades católicas, a CNBB
atuou em importantes frentes de interesse: educação, saúde, migração,
ecologia e promoção humana. Tais
atuações não se esquivaram às polêmicas e contingências da conjuntura
nacional, solicitando do episcopado
um diálogo franco com o governo e os
setores organizados da sociedade. Assim a CNBB entende traduzir o Evangelho em projetos responsáveis a serviço do bem comum, da justiça e da
paz, "para que todos tenham vida" (Jo
10,10). As ações cobrem todo o Brasil,
coordenadas pelas pastorais específicas e outros organismos vinculados à
CNBB, como Caritas, Pastoral da
Criança, Comissão Brasileira de Justiça e Paz, Movimento de Educação
de Base, Mutirão de Superação da Miséria e da Fome, e outros. Muito significativa, nesse sentido, foi a Campanha da Fraternidade 2007, que abordou a temática "Amazônia - vida e
missão neste chão".
Durante o mês de maio, recebemos
a visita de Bento 16. Além de se encontrar com a juventude, canonizar
frei Galvão, visitar a Fazenda da Esperança e dialogar com o governo brasileiro, o papa abriu a 5ª Conferência
Geral dos Bispos da América Latina e
Caribe (Aparecida, 13/5/ 2007), cujo
lema, discutido durante 18 dias, foi
"Discípulos e missionários de Jesus
Cristo, para que Nele nossos povos tenham vida". A 5ª Conferência insistiu
no itinerário de formação do discípulo missionário, que se torna tal a partir de um encontro pessoal com o Senhor da Vida. A missão do discípulo é
muito ampla, devendo repercutir na
própria transformação da sociedade e
das culturas à luz dos valores evangélicos.
A preocupação com o meio ambiente estendeu-se à agenda ecumênica. CNBB e Conic (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs) lideraram um
debate sobre recursos hídricos que
repercutiu no exterior, com a assinatura de uma "Declaração Ecumênica
sobre a Água como Direito Humano e
Bem Público", com a adesão da Conferência Episcopal da Bélgica, que
vem se somar à Conferência dos Bispos da Suíça (SBK) e à Confederação
Suíça de Igrejas Evangélicas, já signatárias da mesma declaração. Na ocasião, em Genebra, na sede do Conselho Mundial de Igrejas, foram feitos
contatos com cientistas suíços, para a
criação de uma Academia Internacional das Águas, com sede no Brasil.
A CNBB também tem participado
dos debates sobre a legalização do
aborto, eutanásia, utilização de embriões em pesquisas científicas e outros temas que envolvem a sacralidade da vida e a dignidade da pessoa humana, criada à imagem e semelhança
de Deus. A complexidade desses temas inclui aspectos sanitários, éticos,
culturais, econômicos, políticos e religiosos. A CNBB insiste no debate a
respeito, do qual quer participar como voz cidadã.
Em parceria com a Frente Parlamentar em Defesa do Trânsito Seguro, o Ministério das Cidades, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), a CNBB
lançou uma campanha para difundir
os "Dez Mandamentos do Trânsito
Seguro", com a distribuição de 10 milhões de cartilhas com orientações
aos motoristas.
Em nível internacional, a CNBB e a
Caritas Brasileira realizaram campanha emergencial de ajuda ao Peru e
continuam realizando outra de ajuda
a Bangladesh, ambos atingidos por
catástrofes naturais. Entre setembro
e outubro passados, pela ação direta
da Caritas e com o apoio da Pastoral
da Mobilidade Humana, participou
da acolhida e integração de 117 refugiados palestinos no Brasil, vindos do
campo de refugiados de Ruweished
(Jordânia), sob a coordenação do Comitê Nacional para Refugiados (Conare) e Alto Comissariado das Nações
Unidas para Refugiados (Acnur).
Pontos altos na vida da Igreja no
Brasil foram, sem dúvida, as cerimônias de beatificação de Albertina Berkenbrock, em Tubarão (SC); do padre
Manuel Gómez González e seu coroinha Adílio Daronch, em Frederico
Westphalen (RS); e da irmã Lindalva
Justo de Oliveira, em Salvador (BA).
Em 2008 o programa de ação prosseguirá, articulando sujeitos, instâncias e parcerias da CNBB à luz das novas diretrizes da ação evangelizadora.
Merece destaque a Campanha da Fraternidade 2008, a ser desenvolvida
durante a Quaresma, em defesa da vida humana desde a concepção até seu
declínio natural. Quanto às próximas
eleições, a CNBB cumprirá seu papel
cidadão de subsidiar a reflexão dos
eleitores católicos e incrementar a
campanha pela ética na política -em
consonância com a Lei 9.840, de combate à corrupção eleitoral.
Por fim, a CNBB se propõe organizar, juntamente com as demais Conferências da América Latina, uma
"missão continental", que envolva comunidades e organizações católicas,
como sugeriu a Conferência de Aparecida, promovendo um despertar
que coloque clero e leigos em "estado
de missão". O propósito é que a evangelização incida mais eficazmente na
consciência e na vida das pessoas e
sua atuação na sociedade.
Que o Espírito do Senhor nos ilumine em todos esses projetos. E que
Maria, a estrela da Evangelização, nos
acompanhe nesta caminhada.
DOM DIMAS LARA BARBOSA, 051, doutor em teologia
sistemática pela Universidade Gregoriana de Roma, é bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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