São Paulo, terça-feira, 01 de janeiro de 2008

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Uma chance para a paz

KIM BOLDUC

O terrorismo é uma ameaça que desconhece fronteiras. Esperamos que, em 2008, os povos do mundo dêem uma chance para a paz

NESTE ANO que se inicia, queremos lembrar um evento lutuoso que há menos de um mês atingiu os povos do mundo. No dia 11 de dezembro de 2007, em Argel (Argélia), a explosão de dois carros-bomba tirou a vida de mais de 30 pessoas inocentes, entre as quais 17 funcionários das Nações Unidas.
Foi a segunda vez que a ONU é alvo de atentados terroristas. A primeira, em agosto de 2003, destruiu a sede das Nações Unidas em Bagdá, no Iraque, e matou 22 pessoas, incluindo o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, que na época era o representante especial do secretário-geral para o país.
Dessa vez, os principais alvos foram os escritórios do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e a corte constitucional argelina.
Como disse o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, ao saber dos ataques na Argélia, "palavras não conseguem expressar os sentimentos de choque e ultraje provocados pelo ataque terrorista contra a missão da ONU em Argel. Foi um ataque covarde contra funcionários civis que estavam a serviço dos mais altos ideais de humanidade sob a égide das Nações Unidas, um ataque indecente e injustificável até pelos padrões mais bárbaros da política. O sacrifício daqueles que morreram não pode nem deve ser esquecido".
Não podemos esquecer que a ONU nasceu de um sonho de paz, quando 50 países do mundo inteiro se reuniram para fundar a organização, em 1945. E o espírito da ONU, após 62 anos de existência, continua vivo, conforme estabelecido no preâmbulo de sua carta de fundação: "Nós, os povos das Nações Unidas, resolvidos a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra (...) e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, (...) e para tal praticar a tolerância e viver em paz uns com os outros (...) estabelecem uma organização internacional que será conhecida pelo nome de Nações Unidas".
Hoje, ao redor do mundo, milhares de colegas dedicam suas vidas para concretizar esse sonho, defendem as causas mais difíceis e se sacrificam pela promessa feita à humanidade há tantos anos. São heróis silenciosos que permanecerão como exemplo e inspiração para o nosso trabalho cotidiano.
Entristece-nos profundamente que nosso mandato universal de promoção dos direitos humanos, de luta contra a pobreza e qualquer forma de discriminação não seja mais proteção suficiente contra a violência. Revolta-nos que alguns grupos não respeitem a vida humana e o trabalho por um mundo mais justo e pacífico.
Os ataques terroristas em Argel demonstram claramente que o terrorismo é uma ameaça que desconhece fronteiras. Uma ameaça aos princípios e valores das Nações Unidas e ao trabalho concreto que a organização desenvolve nos quatro cantos do planeta.
O terrorismo nunca é justificável.
Ele pode atingir qualquer país -grande ou pequeno, rico ou pobre- e pode tirar a vida de seres humanos de qualquer idade, religião, cultura ou estrato social. A comunidade internacional deve ser firme em se opor àqueles que transformam em alvos os inocentes.
Apesar de todas as dificuldades, nossos ideais permanecem intactos.
O dialogo deve prevalecer sobre o terror e a voz das armas. As ferramentas para isso são justiça social, maior respeito aos direitos humanos e democracia plena. Somente assim os povos podem esperar ter uma vida decente e digna e alcançar esse objetivo por meios pacíficos, aliviando o desespero e a alienação que levam alguns ao extremismo.
O trabalho incansável de nossas agências, fundos e programas é o maior tributo que podemos prestar aos colegas que nos deixaram. É como honraremos a cada dia suas memórias, em todo lugar onde tremula a bandeira azul da ONU. Esperamos que, em 2008, os povos do mundo dêem uma chance para a paz.


KIM BOLDUC, coordenadora residente do Sistema das Nações Unidas no Brasil, em nome de todos os escritórios da ONU no país.

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