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Uma chance para a paz
KIM BOLDUC
O terrorismo é uma ameaça que desconhece fronteiras. Esperamos que, em 2008, os povos do mundo dêem uma chance para a paz
NESTE ANO que se inicia, queremos lembrar um evento lutuoso que há menos de um
mês atingiu os povos do mundo. No
dia 11 de dezembro de 2007, em Argel
(Argélia), a explosão de dois carros-bomba tirou a vida de mais de 30 pessoas inocentes, entre as quais 17 funcionários das Nações Unidas.
Foi a segunda vez que a ONU é alvo
de atentados terroristas. A primeira,
em agosto de 2003, destruiu a sede
das Nações Unidas em Bagdá, no Iraque, e matou 22 pessoas, incluindo o
brasileiro Sérgio Vieira de Mello, que
na época era o representante especial
do secretário-geral para o país.
Dessa vez, os principais alvos foram
os escritórios do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento)
e a corte constitucional argelina.
Como disse o secretário-geral das
Nações Unidas, Ban Ki-moon, ao saber dos ataques na Argélia, "palavras
não conseguem expressar os sentimentos de choque e ultraje provocados pelo ataque terrorista contra a
missão da ONU em Argel. Foi um ataque covarde contra funcionários civis
que estavam a serviço dos mais altos
ideais de humanidade sob a égide das
Nações Unidas, um ataque indecente
e injustificável até pelos padrões mais
bárbaros da política. O sacrifício daqueles que morreram não pode nem
deve ser esquecido".
Não podemos esquecer que a ONU
nasceu de um sonho de paz, quando
50 países do mundo inteiro se reuniram para fundar a organização, em
1945. E o espírito da ONU, após 62
anos de existência, continua vivo,
conforme estabelecido no preâmbulo
de sua carta de fundação: "Nós, os povos das Nações Unidas, resolvidos a
preservar as gerações vindouras do
flagelo da guerra (...) e a reafirmar a fé
nos direitos fundamentais do homem, (...) e para tal praticar a tolerância e viver em paz uns com os outros
(...) estabelecem uma organização internacional que será conhecida pelo
nome de Nações Unidas".
Hoje, ao redor do mundo, milhares
de colegas dedicam suas vidas para
concretizar esse sonho, defendem as
causas mais difíceis e se sacrificam
pela promessa feita à humanidade há
tantos anos. São heróis silenciosos
que permanecerão como exemplo e
inspiração para o nosso trabalho
cotidiano.
Entristece-nos profundamente que
nosso mandato universal de promoção dos direitos humanos, de luta
contra a pobreza e qualquer forma de
discriminação não seja mais proteção
suficiente contra a violência. Revolta-nos que alguns grupos não respeitem
a vida humana e o trabalho por um
mundo mais justo e pacífico.
Os ataques terroristas em Argel demonstram claramente que o terrorismo é uma ameaça que desconhece
fronteiras. Uma ameaça aos princípios e valores das Nações Unidas e
ao trabalho concreto que a organização desenvolve nos quatro cantos do
planeta.
O terrorismo nunca é justificável.
Ele pode atingir qualquer país -grande ou pequeno, rico ou pobre- e pode
tirar a vida de seres humanos de qualquer idade, religião, cultura ou estrato social. A comunidade internacional
deve ser firme em se opor àqueles que
transformam em alvos os inocentes.
Apesar de todas as dificuldades,
nossos ideais permanecem intactos.
O dialogo deve prevalecer sobre o terror e a voz das armas. As ferramentas
para isso são justiça social, maior respeito aos direitos humanos e democracia plena. Somente assim os povos
podem esperar ter uma vida decente e
digna e alcançar esse objetivo por
meios pacíficos, aliviando o desespero e a alienação que levam alguns ao
extremismo.
O trabalho incansável de nossas
agências, fundos e programas é o
maior tributo que podemos prestar
aos colegas que nos deixaram. É como
honraremos a cada dia suas memórias, em todo lugar onde tremula a
bandeira azul da ONU. Esperamos
que, em 2008, os povos do mundo
dêem uma chance para a paz.
KIM BOLDUC, coordenadora residente do Sistema das
Nações Unidas no Brasil, em nome de todos os escritórios
da ONU no país.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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