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Desafios de 2009
Novos focos de instabilidade e de poder apontam necessidade de fortalecer mecanismos internacionais de decisão
O PRÓXIMO capítulo "será
fascinante", diz o jornalista Michael Skapinker, do "Financial
Times", comentando as perspectivas globais para 2009. E não se
arrisca a maiores previsões, num
bem-humorado artigo que a
Folha publicou.
"As taxas de juros dos EUA
caindo a zero. Boa parte do sistema bancário estatizado. Um presidente carismático na Casa
Branca. O que acontece a seguir?
Não sei", provoca o articulista,
sem dúvida escaldado pela quantidade dos imprevistos registrados ao longo deste ano.
Todavia, se parece mais difícil
do que nunca antecipar o futuro,
sempre é possível identificar as
variáveis e as tendências que se
firmam no presente, e o ano de
2008 trouxe evidências quanto a
mudanças e desafios que, além
do puro aspecto econômico, se
impõem no cenário global.
Vários fatos apontam para a
crise do atual sistema de poder
nas relações internacionais. Embora os EUA concentrem força
militar incomparável, entram
em crise teorias e práticas fundadas em sua capacidade unilateral de intervenção sobre o
planeta.
Novos focos de instabilidade
se somam ao frustrado intento
americano de impor militarmente um regime pró-ocidental
no Iraque, deixando claros os limites de expedições do tipo.
Pela primeira vez desde o fim
da Guerra Fria, a Rússia afirmou
militarmente a disposição de
preservar sua esfera de influência. Em agosto deste ano, sua incursão esmagadora no território
georgiano não provocou, nos
países do Ocidente, mais do que
condenações retóricas.
Irã, Índia, Paquistão e China,
com tudo o que os diferencia em
termos ideológicos e políticos,
mostram a característica comum de emergirem como polos
de poder e fatores de desequilíbrio num mundo que uma só hiperpotência, por mais forças de
que disponha, não se vê mais em
condições de controlar.
Eis uma realidade que se associa à violência da crise econômica e aos permanentes impasses
nas discussões sobre o aquecimento global para indicar a importância de um fortalecimento
dos organismos internacionais.
O peso conjunto de países como China, Rússia, Índia e Brasil
começa a mostrar-se relevante
para o futuro da economia
mundial -ainda que não se conheça, por enquanto, o real
impacto da crise sobre os países
emergentes.
Seja como for, não pertence ao
ramo da futurologia a constatação de que se acentua, como
nunca, a interdependência entre
os países e diminuiu a assimetria
nas suas relações de poder.
Se, a partir dessa realidade,
irão fortalecer-se mecanismos
mais amplos de diálogo e decisão
é uma questão a que só o futuro
responderá. Mas o futuro, ainda
que insondável, também é, em
parte, resultado da vontade humana. Que, em 2009, ao menos
não desesperemos dela.
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