São Paulo, sexta-feira, 01 de fevereiro de 2008

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Crise econômica e empreendedores brasileiros

PAULO VERAS

Uma das essências do empreendedorismo é justamente saber transformar cada crise em oportunidade

NESTE MOMENTO de grande incerteza e instabilidade da economia norte-americana, todo mundo anda perguntando o que deve acontecer no Brasil.
A crise que se originou nos EUA, especificamente no mercado de crédito imobiliário, se alastrou para alguns dos principais bancos do mundo, que divulgaram prejuízos substanciais no último trimestre de 2007.
Neste início de ano, as Bolsas do mundo todo têm apresentado forte variação a cada dia, assustando os investidores e aumentando as dúvidas sobre o que 2008 reserva para nós.
O Brasil, entretanto, vive um ótimo momento. É consenso que o país nunca esteve tão bem preparado para enfrentar uma crise internacional: o real está forte, a grande dívida externa em dólar faz parte do passado, a inflação está relativamente baixa e o país cresce de forma sustentável.
A desaceleração da economia mundial, se ocorrer de forma profunda e em larga escala, certamente terá um impacto por aqui. Embora os economistas discutam até que grau nossa economia está descolada da dos Estados Unidos, é muito provável que ocorra um impacto negativo em todos os países emergentes, incluindo o Brasil. Mesmo assim, não deve haver uma ruptura com o momento de sólidos fundamentos econômicos e muita atividade empreendedora.
Ao mesmo tempo, observa-se um excelente desenvolvimento do setor privado brasileiro, com crescimento e amadurecimento das empresas em todos os setores. Começamos a exportar gestão para outros países, e diversas empresas de origem local se internacionalizam, criando a primeira onda de multinacionais brasileiras.
Esse movimento serve de inspiração para milhões de micro e pequenos empresários, mostrando que é possível ter sonhos muito maiores do que as fronteiras do Brasil. O reflexo já pode ser observado em um grande número de empresários de menor porte que já exportam parte da sua produção e têm intenções de ampliar o seu mercado para o mundo.
Para os empreendedores brasileiros, os ventos ainda sopram a favor. Ao contrário dos EUA, país que tem sua economia fortemente alavancada, aqui no Brasil ainda há muito espaço para o crescimento do crédito.
A estratégia dos maiores bancos brasileiros ainda aponta para uma expansão do crédito em 2008, tanto para empresas quanto para pessoas físicas, inclusive no setor imobiliário. Esses recursos vão estimular investimentos, proporcionando uma boa oportunidade para empresas nacionais expandirem sua produção e desenvolverem novos produtos.
Enquanto grandes bancos dos EUA registraram prejuízos em 2007, no Brasil foram contabilizados grandes lucros. E os bancos querem, mais do que nunca, direcionar boa parte desses resultados para o setor produtivo da economia, em vez de apostar nos mercados financeiros.
Por outro lado, a diminuição das taxas de juros deve reduzir em velocidade, como já indicado em recente reunião do Copom, que manteve o patamar da taxa Selic em 11,25%.
Um cenário de juros menores seria mais favorável para baratear o crédito às empresas. Mas, dentro do contexto geral, o custo do crédito pode ficar mais baixo que em 2007, ainda que menos do que os empreendedores gostariam. Então, isso não deve ser fator limitante do crescimento.
Outra questão que pode afetar algumas empresas brasileiras é uma diminuição nas exportações, em função da retração do consumo em outros países. Nesse caso, vale analisar o direcionamento da produção para outros mercados, até mesmo para o mercado interno. Os exportadores já tiveram que se adequar a um patamar de câmbio com o dólar muito baixo, então estão mais preparados para improvisar.
A Endeavor, uma instituição sem fins lucrativos que apóia o empreendedorismo para desenvolver o Brasil, atualmente acompanha de perto 36 empresas de porte pequeno e médio.
Essas empresas têm apresentado taxas de crescimento de faturamento substanciais nos últimos anos, em geral acima de 40%. Olhando para a frente, esses empreendedores ainda estão pisando no acelerador, apostando no crescimento baseado em inovação, ótimos produtos e serviços e muito trabalho.
Contabilizando todos esses fatores, os empreendedores nacionais devem continuar a buscar o crescimento.
Afinal, uma das essências do empreendedorismo é justamente saber transformar cada crise em oportunidade. Em 2008, o mundo e o Brasil viverão grandes desafios, mas que certamente irão proporcionar ótimas chances para quem quiser crescer.


PAULO VERAS, 35, graduado em engenharia mecatrônica, é diretor-geral do Instituto Empreender Endeavor. Foi fundador da Tesla e do GuiaSP.

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