|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
Crise econômica e empreendedores brasileiros
PAULO VERAS
Uma das essências do empreendedorismo é justamente saber transformar cada crise
em oportunidade
NESTE MOMENTO de grande
incerteza e instabilidade da
economia norte-americana,
todo mundo anda perguntando o que
deve acontecer no Brasil.
A crise que se originou nos EUA, especificamente no mercado de crédito
imobiliário, se alastrou para alguns
dos principais bancos do mundo, que
divulgaram prejuízos substanciais no
último trimestre de 2007.
Neste início de ano, as Bolsas do
mundo todo têm apresentado forte
variação a cada dia, assustando os investidores e aumentando as dúvidas
sobre o que 2008 reserva para nós.
O Brasil, entretanto, vive um ótimo
momento. É consenso que o país nunca esteve tão bem preparado para enfrentar uma crise internacional: o
real está forte, a grande dívida externa em dólar faz parte do passado, a inflação está relativamente baixa e o
país cresce de forma sustentável.
A desaceleração da economia mundial, se ocorrer de forma profunda e
em larga escala, certamente terá um
impacto por aqui. Embora os economistas discutam até que grau nossa
economia está descolada da dos Estados Unidos, é muito provável que
ocorra um impacto negativo em todos
os países emergentes, incluindo o
Brasil. Mesmo assim, não deve haver
uma ruptura com o momento de sólidos fundamentos econômicos e muita atividade empreendedora.
Ao mesmo tempo, observa-se um
excelente desenvolvimento do setor
privado brasileiro, com crescimento e
amadurecimento das empresas em
todos os setores. Começamos a exportar gestão para outros países, e diversas empresas de origem local se internacionalizam, criando a primeira
onda de multinacionais brasileiras.
Esse movimento serve de inspiração para milhões de micro e pequenos
empresários, mostrando que é possível ter sonhos muito maiores do que
as fronteiras do Brasil. O reflexo já
pode ser observado em um grande
número de empresários de menor
porte que já exportam parte da sua
produção e têm intenções de ampliar
o seu mercado para o mundo.
Para os empreendedores brasileiros, os ventos ainda sopram a favor.
Ao contrário dos EUA, país que tem
sua economia fortemente alavancada, aqui no Brasil ainda há muito espaço para o crescimento do crédito.
A estratégia dos maiores bancos
brasileiros ainda aponta para uma expansão do crédito em 2008, tanto para empresas quanto para pessoas físicas, inclusive no setor imobiliário. Esses recursos vão estimular investimentos, proporcionando uma boa
oportunidade para empresas nacionais expandirem sua produção e desenvolverem novos produtos.
Enquanto grandes bancos dos EUA
registraram prejuízos em 2007, no
Brasil foram contabilizados grandes
lucros. E os bancos querem, mais do
que nunca, direcionar boa parte desses resultados para o setor produtivo
da economia, em vez de apostar nos
mercados financeiros.
Por outro lado, a diminuição das taxas de juros deve reduzir em velocidade, como já indicado em recente
reunião do Copom, que manteve o
patamar da taxa Selic em 11,25%.
Um cenário de juros menores seria
mais favorável para baratear o crédito às empresas. Mas, dentro do contexto geral, o custo do crédito pode ficar mais baixo que em 2007, ainda
que menos do que os empreendedores gostariam. Então, isso não deve
ser fator limitante do crescimento.
Outra questão que pode afetar algumas empresas brasileiras é uma diminuição nas exportações, em função
da retração do consumo em outros
países. Nesse caso, vale analisar o direcionamento da produção para outros mercados, até mesmo para o
mercado interno. Os exportadores já
tiveram que se adequar a um patamar
de câmbio com o dólar muito baixo,
então estão mais preparados para
improvisar.
A Endeavor, uma instituição sem
fins lucrativos que apóia o empreendedorismo para desenvolver o Brasil,
atualmente acompanha de perto 36
empresas de porte pequeno e médio.
Essas empresas têm apresentado
taxas de crescimento de faturamento
substanciais nos últimos anos, em geral acima de 40%. Olhando para a
frente, esses empreendedores ainda
estão pisando no acelerador, apostando no crescimento baseado em
inovação, ótimos produtos e serviços
e muito trabalho.
Contabilizando todos esses fatores,
os empreendedores nacionais devem
continuar a buscar o crescimento.
Afinal, uma das essências do empreendedorismo é justamente saber
transformar cada crise em oportunidade. Em 2008, o mundo e o Brasil viverão grandes desafios, mas que certamente irão proporcionar ótimas
chances para quem quiser crescer.
PAULO VERAS, 35, graduado em engenharia mecatrônica, é diretor-geral do Instituto Empreender Endeavor. Foi fundador da Tesla e do GuiaSP.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Francisco Borba Ribeiro Neto: Quem tem medo da razão?
Índice
|