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São Paulo, sábado, 01 de março de 2003

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Saldo do Carnaval

Para onde vai o Carnaval? Há uma densidade de elementos culturais e folclóricos que marcam, há anos, em nossas cidades os dias de Carnaval. É festa de crianças que se alegram ao usar fantasias e sonhar de olhos abertos. Escolas e colégios organizam teatros e jograis. Há clubes que se ornamentam para distrair a meninada e suas famílias. Prefeituras enfeitam ruas e praças.
O Carnaval, no entanto, veio evoluindo (ou involuindo): desfiles de grupos , o "corso" de carros com serpentinas entre cantos das famosas modinhas da ocasião. Lembro-me dos anos 40, quando, em criança, contemplava os carros abertos a passarem pela avenida Rio Branco no Rio de Janeiro. Era um espetáculo divertido e sem maldade. Havia alguns excessos nos salões de baile e nas noitadas marcadas não raro por desmandos e rixas. Vinha depois a Quarta-Feira de Cinzas e o povo voltava à normalidade de seus trabalhos.
Os anos passam. O Carnaval cresceu. Surgiram os sambódromos, as competições de escolas e o desfile de carros alegóricos, assim como o incentivo ao turismo internacional.
No entanto tudo tem seu preço. E aqui o maior custo é moral. Quem não percebe o descontrole comportamental que caracteriza os dias de folia? O enorme consumo de bebida alcoólica, aliado ao uso da droga, altera e multiplica as situações de alienação, de perda de controle, de desrespeito. Age-se mais por instinto. A pessoa deixa-se levar a atitudes que tornam seu procedimento quase irreconhecível. Assim, nos dias de Carnaval, a novidade das canções, as alegorias criativas e o ambiente de festa popular, infelizmente, unem-se a fortes desmandos morais, ao aumento da criminalidade, a desavenças e a agressões entre grupos carnavalescos, a grave dano para a família. Há índice maior de acidentes e poluição sonora durante as noites e madrugadas.
Tudo isso nos obriga a refletir e a perceber que os dias de Carnaval causam um dano cada vez maior à vida de nosso povo. Os eventuais benefícios artísticos são anulados pelo gravíssimo prejuízo moral. Isso exige um esforço coletivo para coibir excessos, salvaguardar valores éticos e zelar pelo patrimônio moral de nosso povo.
Há uma agravante que não pode ser esquecida. São os gastos dos governos municipais e estaduais com as ornamentações carnavalescas. Isso acontece em contraste com o esforço nacional para superar a miséria e a fome e exige uma revisão de critérios para o uso da verba pública. Os gastos que muitos fazem nestes dias poderiam favorecer novas opções de trabalho e beneficiar pessoas desfavorecidas.
A reflexão mais profunda, no entanto, deve ser feita na oração e à luz de Deus. Os desmandos morais não apenas prejudicam nossa consciência e lesam o próximo mas são ofensa a Deus, que nos atrai à retidão, à virtude e ao bem. Compreendemos, assim, que grupos cada vez mais numerosos se reúnem nestes dias para encontros de oração, retiros espirituais. A exclusão da guerra e a superação da fome passam pela conquista de valores morais e nos obrigam a repensar com objetividade todo o evento do Carnaval e a identificar o saldo negativo que causa à nossa população.
Deus nos ajude a bem discernir


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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