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São Paulo, sábado, 01 de março de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

O poder paralelo

RIO DE JANEIRO - Um visitante do século 19, quando viu o Rio pela primeira vez, definiu a cidade como um exagero. Ele se referia às belezas naturais, que são realmente exageradas. Tanto é verdade que temos dois logotipos, o Corcovado e o Pão de Açúcar, um ao lado do outro. Em outras cidades, basta uma torre, como a de Paris, uma ponte, como a de São Francisco, um relógio, como o Big Ben, em Londres, uma ruína monumental, como o Coliseu, em Roma.
O exagero carioca é tanto que, além de dois logotipos, tem dois aniversários, o 20 de janeiro e o 1º de março, que, por sinal, é a data de hoje, quando o poder paralelo do rei Momo assume o comando daquilo que os cronistas de antigamente chamavam de "folia".
Falei em poder paralelo, e era na verdade um poder: o prefeito vinha à praça pública e entregava as chaves da cidade a um personagem gordo e suado, vestido mais ou menos como aqueles reis do baralho -os únicos que até hoje não foram destronados nem ameaçados disso.
Falar hoje em poder paralelo, numa semana que começou com a bagunça da última segunda-feira, com 25 ônibus incendiados, o comércio fechado e as ruas vazias, pode parecer ironia, mas é apenas uma decorrência do exagero de uma cidade exagerada em tudo.
Não estou insinuando que o nosso alcaide, Cesar Maia, deva ir à penitenciária entregar as chaves da cidade ao Fernandinho Beira-Mar. O prefeito jamais faria isso, e o prisioneiro tampouco precisaria das chaves simbólicas de uma cidade que ele comanda com indiscutível eficiência.
Seria o caso de acrescentar aos exageros cariocas, não apenas ao duplo aniversário (20 de janeiro e 1º de março) e ao duplo logotipo ( Corcovado e Pão de Açúcar), o duplo comando do poder, que, em última análise, resulta na falta de um comando.
Ainda bem que ao menos durante três dias teremos Momo, primeiro e único a mandar na gente.


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