São Paulo, quinta-feira, 01 de março de 2007

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Fora de esquadro

Democracia no Brasil deve criação maciça de postos de trabalho, o que requer diminuição do gasto público e dos juros

DURANTE três mandatos seguidos, os dois principais partidos nascidos da redemocratização comandaram a política econômica brasileira. A inflação foi controlada, instalou-se uma ampla rede de proteção aos mais pobres, as contas externas foram estabilizadas, forças de mercado ganharam terreno com privatizações, abertura e reformas.
O país, no entanto, não conseguiu sair do atoleiro do crescimento baixo, como reiterou o IBGE ao divulgar mais uma pífia variação anual do PIB.
Na modorra que prevalece desde que Fernando Henrique Cardoso assumiu pela primeira vez, a economia leva 30 anos para dobrar de tamanho -fenômeno que na China ocorre a cada oito anos. Obviamente não precisamos almejar o ritmo chinês. O país asiático vive um processo de urbanização similar ao ocorrido por aqui de 1930 a 1980, embora em escala gigantesca.
Como é de esperar que a velocidade de expansão da China arrefeça com o tempo, seria natural que a economia brasileira sofresse alguma desaceleração após ter completado o ciclo inicial de urbanização e industrialização. A violência dessa freada, ocorrida no início dos anos 1980, e a incapacidade do Brasil de recobrar o fôlego é que estão totalmente fora de esquadro.
Nos últimos 12 anos -período da hegemonia tucana e petista e da inflação controlada-, o Brasil cresceu a 2,4% ao ano, enquanto o mundo se expandiu a 4%. Sob o governo Luiz Inácio Lula da Silva, a média de 2,6% contrastou ainda mais com a global (4,8%).
Além do PIB em crônica marcha lenta, o que ressalta na comparação do Brasil com países em estágio parecido de desenvolvimento são os juros onerosos demais (o que distorce o câmbio) e a escorchante carga tributária. Trata-se de fatores diretamente ligados ao nível a que escalou a despesa pública brasileira.
O Estado, que sob os governos de PSDB e PT descurou de controlar seus gastos -decerto em nome de objetivos nobres inscritos no pacto democrático, como a estabilização da moeda e a defesa dos mais pobres-, precisa agir para que o país vença a letargia. A agenda do investimento e do emprego exige combate frontal às ineficiências da máquina estatal e corte relevante dos gastos públicos e dos juros.
O distributivismo estatal chegou ao limite. A via para o bem-estar terá de ser desbravada no mercado de trabalho -e, à diferença da China, com democracia.


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