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Fora de esquadro
Democracia no Brasil deve criação maciça de postos de trabalho, o que requer diminuição do gasto público e dos juros
DURANTE três mandatos
seguidos, os dois principais partidos nascidos da redemocratização comandaram a política econômica brasileira. A inflação foi
controlada, instalou-se uma ampla rede de proteção aos mais pobres, as contas externas foram
estabilizadas, forças de mercado
ganharam terreno com privatizações, abertura e reformas.
O país, no
entanto, não
conseguiu sair
do atoleiro do
crescimento
baixo, como
reiterou o IBGE ao divulgar mais uma
pífia variação
anual do PIB.
Na modorra
que prevalece
desde que
Fernando
Henrique
Cardoso assumiu pela primeira
vez, a economia leva 30 anos para dobrar de tamanho -fenômeno que na China ocorre a cada oito anos. Obviamente não precisamos almejar o ritmo chinês. O
país asiático vive um processo de
urbanização similar ao ocorrido
por aqui de 1930 a 1980, embora
em escala gigantesca.
Como é de esperar que a velocidade de expansão da China arrefeça com o tempo, seria natural que a economia brasileira sofresse alguma desaceleração
após ter completado o ciclo inicial de urbanização e industrialização. A violência dessa freada,
ocorrida no início dos anos 1980,
e a incapacidade do Brasil de recobrar o fôlego é que estão totalmente fora de esquadro.
Nos últimos 12 anos -período
da hegemonia tucana e petista e
da inflação controlada-, o Brasil
cresceu a 2,4% ao ano, enquanto
o mundo se expandiu a 4%. Sob o
governo Luiz Inácio Lula da Silva, a média de 2,6% contrastou
ainda mais com a global (4,8%).
Além do PIB em crônica marcha lenta, o que ressalta na comparação do Brasil com países em
estágio parecido de desenvolvimento são os juros onerosos demais (o que distorce o câmbio) e
a escorchante
carga tributária. Trata-se de
fatores diretamente ligados
ao nível a que
escalou a despesa pública
brasileira.
O Estado,
que sob os governos de
PSDB e PT
descurou de
controlar seus
gastos -decerto em nome de objetivos nobres
inscritos no pacto democrático,
como a estabilização da moeda e
a defesa dos mais pobres-, precisa agir para que o país vença a
letargia. A agenda do investimento e do emprego exige combate frontal às ineficiências da
máquina estatal e corte relevante dos gastos públicos e dos juros.
O distributivismo estatal chegou ao limite. A via para o bem-estar terá de ser desbravada no
mercado de trabalho -e, à diferença da China, com democracia.
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