|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Minutos malucos no cassino
SÃO PAULO - Você pode escolher
a explicação que preferir para o
abalo da terça-feira nas Bolsas do
planeta. A grande maioria delas tem
até algum fundamento. Mas a explicação de fundo, o que está por trás
de tudo, é o cassino em que se transformou o capitalismo nesta era de
predomínio avassalador da finança
sobre a produção.
É só ler o que diz a "Agenda Global", da revista britânica "The Economist". Conta que, na Bolsa de
Nova York, o "pior ponto do dia [a
terça-feira] foi durante uns poucos
minutos malucos em torno de 15h".
Até então, a queda havia sido de
pouco mais de 200 pontos. Subitamente, despencou "mais um par de
centenas de pontos em menos de
um minuto -taxa de declínio que
os operadores disseram ser sem
precedentes".
Queda total: 416 pontos, mais da
metade deles "durante uns poucos
minutos malucos".
O que aconteceu nesses minutos
para explicar uma queda sem precedentes? Um ataque terrorista
derrubou o Empire State Building
ou a Muralha da China ou o Big
Ben? Os fundamentos da economia
norte-americana foram todos para
o brejo em menos de um minuto? O
presidente George Walker Bush é,
na verdade, Osama bin Laden disfarçado. Nada, nada, nada.
Nesses minutos malucos, os juros
nem subiram nem desceram, não
houve sinal de aceleração ou de desaceleração da economia, não se retirou o Oscar de Martin Scorcese,
ninguém foi eliminado nos muitos
"big brothers" que as TVs mostram
mundo afora. Nada.
Vale o mesmo para a subida de
12% no tal risco-país relativo ao
Brasil. Nada mudou de segunda para terça-feira para que o risco subisse, ou de terça para quarta para que
caísse.
Lula nem reformou o ministério,
o que eventualmente justificaria o
aumento do risco ou sua queda.
Nesse cassino, ganha a banca. Sempre. Banca sem rosto.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Um dia de pânico
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Dê no que dê, vitória de Lula Índice
|