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MELCHIADES FILHO
Boca de Lupi
BRASÍLIA - O Planalto alega que
não pode demitir um ministro "a
cada denúncia" da imprensa. Certo.
Mas não é isso o que segura Carlos
Lupi (Trabalho), censurado pela
Comissão de Ética por conciliar o
cargo com a presidência do PDT e
investigado pela Controladoria Geral por assinar convênios supostamente em benefício do partido.
Ao governo não interessa que o
PDT saia da coalizão e caia no colo
oposicionista em 2010.
Muito menos que a ruptura ocorra na largada das eleições municipais. É um pedetista, por exemplo,
quem lidera as pesquisas no Rio, alvo cobiçado pelo lulismo.
Seria um perigo, também, abrir
precedente e dispensar um ministro por causa de parcerias estranhas com ONGs. É evidente que outros partidos da base bebem dessa
torneira. Note o empenho dos governistas para bloquear a CPI que
pretendia investigar os convênios.
Mas Lupi sobrevive, mais do que
tudo, porque representa a Força
Sindical no primeiro escalão. Sem o
apoio da central, o presidente teria
(mais) problemas para resolver as
muitas pendências na área do Trabalho: imposto sindical, direito de
greve no setor público, convenções
da OIT, reajustes do funcionalismo
(congelados pós-CPMF) etc.
Lula, PT e CUT surgiram em protesto contra o sindicalismo "pelego" e a legislação trabalhista que este avalizou (algo que o distanciou
do brizolismo, herdeiro do varguismo e escola política de Lupi).
Mas o mundo girou, o trabalhismo perdeu relevância, o discurso
murchou. Com a informalização e a
volatilidade do mercado, o operário
não chama mais a CLT de fascista.
Pelo contrário, aferra-se a ela.
Lula não é míope como os aliados
que plantam denúncias contra Lupi. Ao acalentar o ministro da Força, ele mantém não só um equilíbrio entre as centrais como o direito de discursar em nome de todas.
O legado varguista virou pop. Lula vai abraçá-lo até que o eleitor se
esqueça de Getúlio Vargas também.
mfilho@folhasp.com.br
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